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Pesquisadores da Embrapa Arroz e Feijão (GO) vêm aplicando uma técnica inovadora baseada na edição gênica para aprimorar microrganismos benéficos usados na agricultura. A pesquisa, que utiliza a tecnologia CRISPR (Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas), permite modificar genomas de forma precisa, principalmente de fungos filamentosos economicamente relevantes, com a geração de organismos não transgênicos. A expectativa é que os microrganismos geneticamente editados impulsionem ainda mais o controle biológico de pragas e doenças agrícolas no Brasil, que já é líder mundial nessa prática, com mais de 20 milhões de hectares tratados, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Além disso, devem contribuir também para a promoção do crescimento das plantas.
O primeiro grande avanço ocorreu no primeiro semestre de 2024, quando o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento de Bioinsumos da Embrapa Arroz e Feijão (ProBio) desenvolveu uma linhagem editada do fungo Trichoderma harzianum com maior capacidade de produzir melanina, aumentando a sua proteção em três vezes, comparado com a cepa selvagem, quando exposto à alta dose de irradiação em condições de laboratório. Com isso, espera-se que o agente de controle biológico seja mais estável, quando aplicado na parte aérea da planta, sob exposição solar. Utilizado para o controle de doenças fúngicas em culturas como soja e feijão, o microrganismo foi melhorado geneticamente, com grande potencial de ser classificado como não transgênico.
Além disso, a equipe avançou na produção de metabólitos secundários, que são moléculas de interesse industrial. “A mesma melanina previamente citada, quando produzida e purificada, pode ser utilizada como protetor solar em formulações de bioinseticidas. Estudos preliminares mostraram que a cepa selvagem formulada com a melanina foi capaz de resistir a altas doses de irradiação, em torno de quatro vezes mais do que a mesma cepa não formulada”, complementa Côrtes.
Foto: Rodrigo Peixoto
Melhoramento de precisãoO pesquisador da Embrapa Algodão (PB) e ex-presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) entre 2020 e 2023, Paulo Barroso, é um dos parceiros nesses projetos. Ele explica que os organismos geneticamente modificados (OGMs) envolvem a transferência de sequências de DNA entre espécies não aparentadas, sobrepujando barreiras intransponíveis ao melhoramento clássico. Nesses casos, cada novo OGM corresponde a um organismo inédito, sem precedentes na natureza e com histórico de uso seguro ainda não estabelecido. Por essa razão, os OGMs precisam passar por etapas de avaliação adicionais, a fim de verificar a segurança para a saúde humana, animal e para o meio ambiente antes de serem disponibilizados à sociedade. Já os organismos editados via TIMP (Técnicas Inovadoras de Melhoramento de Precisão) envolvem a transferência ou a alteração de sequências gênicas que poderiam ser realizadas por cruzamentos, indução de mutação e outros métodos usados nos programas de melhoramento convencionais, seja de plantas, animais ou microrganismos. Eles não sobrepujam barreiras evolutivas naturais. Segundo Barroso, isso torna o processo de obtenção de um novo genótipo melhorado mais rápido, preciso e eficiente, acelerando o desenvolvimento em muitos anos. Ele esclarece ainda que os genótipos melhorados via métodos clássicos são essencialmente similares aos genótipos melhorados via TIMP e também guardam similaridades quanto ao risco. Por isso, os métodos de avaliação de segurança podem ser os mesmos para ambos, dispensando as etapas adicionais para a avaliação da biossegurança dos OGMs. Um ponto importante é que, para ser legalmente considerado um genótipo TIMP, ele deve ser avaliado pela CTNBio, que usa critérios claros e internacionalmente aceitos estabelecidos em sua Resolução Normativa n° 16, de 2018. |
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Rodrigo Peixoto (MTb 1.077/GO)
Embrapa Arroz e Feijão
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