Polícia Crime
Delegada afirma que arcebispo da época sabia dos abusos mas fez padre e seminarista fazerem acordo
A delegada não cita o nome do Arcebispo da época, mas relata que ele faleceu no ano de 2021
26/08/2025 09h10 Atualizada há 3 horas
Por: Redação Fonte: CGN
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Na manhã desta segunda-feira (25), a delegada Thaís Zanatta concedeu entrevista coletiva para detalhar a prisão preventiva de um padre de 41 anos, natural de Cascavel, acusado de abuso sexual. A ação foi deflagrada pelo Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes (NUCRIA) na manhã de domingo (24), durante a “Operação Lobo em Pele de Cordeiro”. O religioso foi detido na casa da mãe, onde residia após ter sido afastado de suas funções eclesiásticas em agosto de 2025, em decorrência das investigações.

 

Segundo a delegada, as investigações tiveram início em julho de 2025, após denúncia formalizada por uma tia de uma das vítimas. A operação incluiu o cumprimento de mandados de busca e apreensão em dois endereços: a residência do acusado e uma clínica onde ele atuava como terapeuta, ambos em Cascavel. Foram apreendidos computadores e aparelhos telefônicos, que passarão por perícia.

 

De acordo com a Polícia Civil, ao menos três vítimas já foram identificadas, todas do sexo masculino. O primeiro caso remonta aos anos de 2009 e 2010, quando o então seminarista teria tentado estuprar outro seminarista, que, embora maior de 18 anos, encontrava-se em estado de sonolência, condição considerada de vulnerabilidade pela legislação penal. Este episódio foi comunicado ao arcebispo da Igreja Católica de Cascavel à época, mas, segundo a delegada, não houve encaminhamento do caso às autoridades judiciais ou policiais. O arcebispo, falecido em 2021, teria feito os envolvidos assinarem um termo de acordo para manter o caso sob sigilo, e há relatos de que ele próprio teria cometido assédio contra seminaristas.

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Outro caso citado ocorreu entre 2013 e 2014, quando o padre já atuava em uma igreja de Cascavel. Há relatos de que ele oferecia bebidas alcoólicas, presentes e dinheiro a acólitos – jovens e adolescentes, alguns menores de 14 anos – que pernoitavam em sua casa e, segundo testemunhas, dormiam em seu quarto, inclusive em sua cama.

O caso mais recente ocorreu em 2019, envolvendo um jovem de 19 ou 20 anos, ex-usuário de drogas, acolhido pelo padre sob o pretexto de tratamento. Durante a estadia na casa paroquial, o jovem teria sido dopado e abusado sexualmente. A tentativa de suicídio da vítima, em dezembro do ano passado, e as graves sequelas decorrentes do ato motivaram a denúncia à polícia, dando início à investigação formal.

Até o momento, onze pessoas foram ouvidas, sendo três reconhecidas como vítimas. A delegada informou que há possibilidade de surgirem novos relatos, uma vez que algumas testemunhas, ao prestarem depoimento, identificaram-se como vítimas apenas durante a oitiva. “São pessoas que hoje têm entre 23 e 25 anos e, à época dos fatos, tinham entre 13 e 15 anos. Muitas não se enxergavam como vítimas, mas agora, durante as oitivas, isso veio à tona”, explicou Thaís Zanatta.

O religioso permanece detido na cadeia pública de Cascavel e poderá ser transferido para uma penitenciária. Seu interrogatório ainda não foi realizado, pois, segundo a delegada, este é o último ato do processo investigativo, que ainda depende do depoimento de outras testemunhas.

As denúncias contra o padre incluem estupro de vulnerável, em razão das condições das vítimas na ocasião dos crimes: estado de sonolência, menoridade e uso de substâncias para dopá-las. A atuação da Igreja Católica local também é alvo de questionamentos, uma vez que denúncias anteriores teriam sido negligenciadas. Segundo a delegada, até o momento não há investigação formal contra membros da Igreja, mas, caso seja comprovada condescendência criminosa, essas pessoas poderão ser responsabilizadas.

A Polícia Civil segue com as investigações, e a expectativa é que novas vítimas possam se apresentar nos próximos dias.