Um avanço histórico na medicina brasileira foi apresentado em São Paulo na terça-feira (9/set).
O medicamento polilaminina, desenvolvido ao longo de 25 anos pela pesquisadora Tatiana Coelho de Sampaio, professora doutora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), promete transformar o tratamento de lesões medulares.
Extraído de uma proteína presente na placenta humana, a laminina, o fármaco demonstrou capacidade de regenerar a medula espinhal, oferecendo esperança para pessoas com paraplegia (paralisia dos membros inferiores) e tetraplegia (paralisia de membros inferiores e superiores) causadas por acidentes como quedas, mergulhos ou ferimentos à bala.
A polilaminina atua estimulando neurônios maduros a se regenerarem, promovendo a formação de novos axônios, estruturas responsáveis por conduzir impulsos elétricos no corpo.
Durante a fase experimental, aplicada diretamente na coluna, o medicamento levou à recuperação total de movimentos em alguns pacientes, sem sequelas, permitindo que retomassem rotinas sem restrições.
“A todo momento a gente se pergunta se vai se decepcionar, é uma dúvida. O que me dá segurança é o retorno e a interação com quem está a minha volta e os resultados que estamos vendo”, declarou Tatiana Coelho de Sampaio à Folha de S. Paulo.
Testemunhos de Sucesso e Impacto Mundial
Na apresentação do fármaco, conduzida pelo Laboratório Cristália, dois dos oito voluntários de um estudo clínico aprovado por órgãos éticos compartilharam suas experiências.
Hawanna Cruz Ribeiro, atleta paralímpica de rugby de 27 anos, ficou tetraplégica em 2017 após uma queda de dez metros.
Após receber a polilaminina em 2020, ela recuperou entre 60% e 70% do controle do tronco e relatou melhora na sensibilidade da bexiga, embora ainda não tenha independência total.
“Não tenho nenhuma dúvida da minha melhora”, afirmou.
Outro caso é o de Bruno Drummont de Freitas, 31 anos, que, após um acidente de trânsito, ficou completamente paralisado do pescoço para baixo. Com a aplicação do medicamento 24 horas após o trauma, ele relatou:
“Hoje em dia, consigo me movimentar inteiro, claro que com certas limitações… consigo levantar, andar, dançar, voar. Isso me garantiu minha independência”.
O neurocirurgião Marco Aurélio Brás de Lima, que participou dos estudos, destacou a inovação: “Isso é uma coisa inédita”.
A descoberta é considerada um marco, já que, até o momento, nenhum método havia conseguido regenerar tecido nervoso de forma tão eficaz.
Comentários em plataformas como o Jornal de Brasília sugerem que, se confirmada, a eficácia da polilaminina pode ser comparada à importância dos antibióticos, com potencial para um Prêmio Nobel.
Desafios e Próximos Passos
Apesar dos resultados promissores, a polilaminina ainda não foi totalmente comprovada cientificamente, e a divulgação do estudo está sendo adiada para proteger seu ineditismo.
“A Anvisa diz que aguarda dados complementares”, informou a Folha de S. Paulo.
Hospitais como o Hospital das Clínicas e a Santa Casa, em São Paulo, estão preparados para aplicar o medicamento em pacientes com lesões medulares recentes, dentro de três meses após o trauma, assim que aprovado.
A polilaminina já teve sua patente registrada, mas o processo pode levar anos para se concretizar.
Estudos duplicados em laboratórios independentes confirmaram sua eficácia, reforçando a credibilidade da pesquisa.
“Se esse medicamento for tudo isso mesmo, a pesquisadora precisa ganhar o Prêmio Nobel. Tornou possível algo impossível”, destacou um comentário no site da Folha de S. Paulo.
Embora os resultados sejam animadores, especialistas alertam para a necessidade de mais estudos para confirmar a segurança e a eficácia em larga escala.
A polilaminina representa um avanço significativo, mas sua aplicação inicial será restrita a lesões recentes, o que limita seu uso em casos crônicos.
Além disso, a demora na aprovação pela Anvisa reflete a complexidade de validar um medicamento inovador, especialmente em um contexto onde a judicialização de medicamentos no Brasil, como relatado pela Folha, já custa bilhões ao sistema de saúde.
Outras pesquisas recentes, como um estudo sobre dor neuropática publicado pela Folha, indicam avanços no entendimento de lesões nervosas, sugerindo que a polilaminina pode se beneficiar de abordagens complementares no futuro.
A comunidade científica e pacientes aguardam ansiosamente os próximos passos, que podem redefinir o tratamento de lesões medulares no Brasil e no mundo.