Tecnologia Inovação
Melhoramento, impulso genético, criação da “ovelha do futuro”
A pesquisa busca oferecer ovinocultura de animais de corte mais eficientes, produtivos e rentáveis
01/10/2025 08h46
Por: Redação Fonte: Embrapa
Foto: Keke Barcellos
  • Pesquisas já resultaram em ovelhas com melhor conformação e rendimento de carcaça, perda de lã, maior prolificidade e resistência à verminose.
  • Esses animais já foram testados com sucesso na Embrapa Pecuária Sul (RS) e agora seguem para validação em rebanhos comerciais.
  • A expectativa é duplicar a eficácia produtiva na ovinocultura de corte, com melhor relação entre receitas e despesas.
  • As melhorias genéticas também são moderadas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e diminuir o número de animais improdutivos nos rebanhos.
  • O projeto está em fase de repasse de reprodutores para produtores parceiros, com acompanhamento e avaliação em campo.
  • Os cientistas querem que a ovinocultura do futuro possa adotar todas ou apenas algumas das características genéticas desenvolvidas, de acordo com os sistemas de produção.

Pesquisadores da Embrapa Pecuária Sul (RS) estão trabalhando em um projeto denominado por eles de “ovelha do futuro”. A busca iniciativa oferecer à ovinocultura de corte de animais mais eficientes, produtivos e rentáveis. Pesquisas de melhoramento genético com o rebanho da Unidade já resultaram em exemplares que reúnem quatro características: melhor conformação e rendimento de carcaça, perda de lã, maior prolificidade (capacidade de gerar prole) e resistência à verminose. O próximo passo é validar essas melhorias genéticas com produtores parceiros, antes de disponibilizá-las aos rebanhos comerciais.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, José Carlos Ferrugem , com essa seleção assistida é possível duplicar a eficácia produtiva na ovinocultura de corte, a partir de uma nova relação entre receitas e despesas, além de contribuir para a redução de emissões de gases de efeito estufa e para a diminuição da eficiência populacional improdutiva nos rebanhos. A seleção para prolificidade e para conformação e rendimento de carcaça é feita via genótipo, uma vez que os genes responsáveis ​​por essas características já foram identificados. Já as pesquisas para a perda natural de lã e resistência às verminoses são feitas pelo fenótipo, ou seja, pela seleção a partir da observação dos indivíduos que possuem essas características no rebanho.

Foto: Fernando Goss (Prolificidade também é alcançada com o gene Vacaria)

 

O projeto está em fase de repasse de reprodutores a produtores parceiros para acompanhamento e avaliação dos filhos nascidos com essas características. Os carneiros melhorados, que fazem parte dos rebanhos da Embrapa, são cedidos aos produtores, via comodato, para acasalar com as ovelhas de ovelhas. A ideia inicial é acompanhar, pelo menos, 1.000 animais nascidos desses classificações, sendo que o projeto já conta com dois produtores associados.

Os parceiros produtores se comprometem a realizar o envio zootécnico dos animais, incluindo identificação com brincos de cordeiros e cordeiras nascidas e utilização de cadernetas confeccionadas especialmente para essa finalidade. Serão anotados dados como os dados do parto, mãe, sexo e peso ao nascer. Durante o desmame, os animais serão submetidos à avaliação de seu escore de cobertura de lã (velo, barriga, costela e lombo), resistência à verminose, além da aferição do peso corporal e coleta de amostra de sangue para entrega de DNA. "As duas primeiras progênies de todas as propriedades parceiras serão derivadas de carneiros produzidos pela Embrapa Pecuária Sul. As demais contarão também com carneiros selecionados nos rebanhos associados. Os acasalamentos em todas as propriedades serão planejados para o atendimento dos critérios previstos pelo sistema de seleção", ressalta Ferrugem.

Um dos objetivos do projeto é possibilitar que os produtores projetem sua própria “ovelha do futuro”, utilizando a genética das quatro características ou aquela que for do seu interesse. “Queremos que o próprio produtor desenvolva a sua ovelha do futuro, de acordo com seus objetivos e sistema de produção”, diz o pesquisador João Carlos de Oliveira . Ou seja, se um produtor já cria ovinos de raças naturalmente deslanadas, a genética de perda de lã não vai interessar, mas as outras podem trazer melhorias e ganhos para a sua criação e, do mesmo modo, com as demais características selecionadas.

 

Maior prolificidade para aumentar a rentabilidade

A Embrapa Pecuária Sul já possui um histórico de trabalho com o incremento da prolificidade em ovinos, o que aumenta a possibilidade de nascimentos de dois ou mais cordeiros por ovelha parida. Há mais de 20 anos a instituição vem divulgando essa genética em rebanhos comerciais. Esse trabalho começou com a introdução do gene Booroola, identificado em ovinos da raça Merino Australiano, e trazido pela Embrapa para o Brasil. “A partir da multiplicação dessa genética no rebanho da instituição em Bagé, ela foi repassada para produtores, e hoje está distribuída em rebanhos de diferentes raças criadas na região Sul”, ressalta o pesquisador  Carlos Hoff de Souza .

A partir da prospecção entre produtores e do registro genealógico da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos ( Arco ), foram identificadas mais duas mutações genéticas com essas características: o gene Embrapa, encontrado inicialmente na raça Santa Inês; e o Vacaria, em ovinos da raça Ile de France. A introdução dessa genética propicia um aumento na produtividade dentro da propriedade, uma vez que aumenta o número de cordeiros comercializados sem a necessidade de mais matrizes, representando mais rentabilidade para o produtor.

 

Foto: Keke Barcellos (Genética Booroola propicia maior número de partos múltiplos)

 

 

 

Ganhos com aumento médio no peso e no rendimento das carcaças

O gene batizado de Bombacha pelos pesquisadores, que possibilita melhor conformidade e maior rendimento de carcaça, foi identificado inicialmente em ovinos Texel, raça criada para produção de carne. O Bombacha está relacionado com a conformação da parte traseira dos ovinos, gerando mais carne em cortes comercializados, como o pernil. De acordo com Souza, com o gene espera-se em torno de 9% de aumento no peso médio das carcaças - de 17 kg para 18,5 kg, e 5% de ganho no rendimento médio das carcaças - de 40% para 42%.

O objetivo, segundo o pesquisador, também está relacionado com o aumento da produtividade e da renda dos produtores. “Com o incremento médio no peso e no rendimento da carcaça, o produtor consegue receber mais com as vendas dos cordeiros”, complementa. O gene já foi introduzido em outras raças produzidas no rebanho da Embrapa e é um dos componentes da seleção assistida que será divulgado em criações comerciais.

 

Perda natural de lã diminuída necessidade de mão de obra

Outra característica genética disponibilizada pelo projeto de seleção assistida da Embrapa Pecuária Sul é a perda espontânea de lã. Com a queda dos preços pagos pela lã ovina a partir dos anos 2000, com exceção de lãs extrafinas de algumas raças específicas para essa especificamente, e acentuada durante a pandemia, a comercialização de lã praticamente não rende nada para o produtor. Além disso, com a redução do rebanho no Estado, a disponibilidade de mão de obra para o trabalho com os ovinos é cada vez menor e os preços para a execução da tosquia anual vêm se tornando um importante componente das despesas no sistema de produção, sem retorno econômico com a comercialização de lãs acima de 21 micra (o equivalente a 0,021 mm de diâmetro de fibra, também conhecido como “finura” da lã).

De acordo com Oliveira, o custo da tosquia na região de Bagé atualmente gira em torno de R$ 12 por ovelha ao ano, e esse custo muitas vezes supera o preço pago pela lã produzida. "Isso na região de Bagé, que possui uma longa tradição na ovinocultura. Em outras regiões, esse preço pode ser bem mais elevado", pontua o pesquisador. Com a introdução de animais que perdem a lã naturalmente é possível uma redução de, pelo menos, 50% no número de animais tosquiados anualmente.

A seleção dos reprodutores foi realizada a partir do fenótipo, ou seja, pela observação e seleção dos animais que manifestaram essa característica. Isso foi possível depois dos cruzamentos de raças deslanadas, como a Santa Inês, com raças lanadas criadas na região Sul e presentes no rebanho da Embrapa. De acordo com Souza, os resultados já disponíveis ainda não são suficientes para um entendimento completo da base gênica referente à variação fenotípica em animais que perdem espontaneamente a lã. Também está previsto no projeto a coleta de amostras de DNA das progênies dos acasalamentos pré-planejados nos rebanhos comerciais para a formação de um banco de dados, proporcionando futuros estudos de associação genômica ampla.

 

Foto: Carlos Hoff de Souza (Despeleamento natural é uma das características buscadas na seleção assistida)

 

Resistência à verminose melhora desempenho e reduz custos

O projeto prevê ainda a seleção de ovinos mais resistentes a verminoses que infectam os rebanhos e causam prejuízos ao produtor, com a morte de animais, acréscimo do desenvolvimento e do ganho de peso dos cordeiros, além de custos com a utilização de vermífugos. Segundo a pesquisadora da Embrapa Pecuária Sul  Magda Benavides , a seleção está sendo feita a partir da manutenção em rebanhos de animais que apresentam maior resistência natural e eliminação daqueles que são mais suscetíveis às parasitas. Esse processo de seleção é realizado tanto no rebanho da Embrapa quanto nos produtores parceiros.

A identificação dos animais mais resistentes é feita a partir de um exame chamado de OPG (Ovos de parasitos por Grama), realizado nas fezes dos ovinos. A metodologia prevê a avaliação dos reprodutores quanto à suscetibilidade a infecções de helmintos por meio de, pelo menos três, exames de OPG, entre o desmame e o acasalamento. Conforme os resultados dos exames, os animais serão ranqueados quanto aos dados de OPG e 25% das fêmeas, com valores de OPG mais elevados, são descartados. De acordo com Benevides, o trabalho inicialmente é feito com fêmeas, mas logo será estendido para machos.

O pesquisador também ressalta que, com essa seleção, um dos objetivos é, no futuro, reduzir em 50% o número de doses de medicação aplicadas anualmente nos rebanhos. "Historicamente, os produtores tratam os rebanhos com vermífugos pelo menos seis vezes ao longo do ano. O esperado é que as linhagens selecionadas sejam tratadas, no máximo, três vezes, o que proporciona, além da redução do custo com medicamentos pela metade, melhores condições de criação, menor contaminação ambiental, bem como melhores condições de bem-estar animal e sanitárias", acrescenta.

Além disso, aumentando o número de animais mais resistentes, espera-se a redução da contaminação parasitária das pastagens em função do descarte de animais persistentemente infectados, ou seja, aqueles que mantêm o número alto de larvas infectantes na pastagem e, assim, perpetuam a presença das parasitas no campo. Outro efeito está relacionado à desaceleração da resistência das parasitas aos princípios químicos dos vermífugos, com a menor aplicação de medicamentos.

 

Foto: Carlos Hoff de Souza

 

 

 
 

Fernando Goss (1065 MTb-SC)
Embrapa Pecuária Sul

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