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Segundo o pesquisador Fábio Miranda , responsável pelos estudos, entre outras vantagens, o cultivo irrigado em substrato proporciona melhor desempenho produtivo nas culturas, em relação ao cultivo no solo. Entretanto, essa estratégia de produção requer a aplicação diária de um volume de água ou solução nutritiva maior do que a necessidade hídrica das plantas, para lavar os sais e manter a salinidade no interior dos vasos de cultivo nos limites tolerados pela cultura. Altos níveis de salinidade dificultam a absorção de nutrientes e prejudicam o desenvolvimento das plantas e, consequentemente, a produtividade.
O especialista explica que as perdas de água e de nutrientes nessa forma de cultivo podem chegar a 30%, dependendo da salinidade da água de acordo com a aplicação específica. O aproveitamento da solução drenada dos vasos, considerando solução lixiviada, possibilita o uso mais racional de fertilizantes, diminui o processo de salinização do solo, evita o descarte inadequado de efluentes com substâncias poluentes e reduz o uso de águas subterrâneas e de superfície na superfície. Apesar das vantagens econômicas e ambientais, esse tipo de sistema ainda é pouco utilizado no Brasil e em outros países, devido às dificuldades de manejo.
Os principais desafios para a reutilização da solução nutritiva em cultivos irrigados estão relacionados à propagação de patógenos causadores de doenças e ao aumento dessa salinidade dessa solução. "O aproveitamento da solução recolhida de uma planta doente pode contaminar todo o cultivo. Para evitar esse problema, no sistema de reutilização, incorporamos processos de tratamento do recolhido, que garantem a reutilização com segurança para a cultura e menor custo no processo produtivo, em função da redução de gastos com fertilizantes, além de ganhos ambientais", ressalta Miranda.
As pesquisas para desenvolvimento do sistema foram realizadas por meio do projeto Otimização do uso da água e de fertilizantes no cultivo protegido sem solo de tomate cereja na Serra da Ibiapaba , desenvolvido pela Embrapa Agroindústria Tropical, em parceria com a empresa Estufa Timbaúba . Os resultados estão reunidos na publicação Sistema de cultivo protegido do tomate em substrato com reutilização da solução nutritiva .
Fotos: Fábio Miranda (Filtros e reservatório do sistema de reutilização de solução nutritiva) e
Divulgação (vasos com plantas sobre caixas de coleta de solução nutritiva)
Para validar o sistema, foram avaliados plantios comerciais de tomate tipo uva em substrato de fibra de coco, implantados em uma estufa com 2.500 metros quadrados, em Guaraciaba do Norte (CE). A pesquisa comparou o consumo de água e fertilizantes em dois cultivos com 1.000 plantas cada, com o sistema de reuso e sem o reuso.
Na cultura do tomate, uma planta adulta recebe 2,4 litros de água por dia, às vezes até mais, dependendo das condições climáticas, e cerca de 20% a 30% se perde por lixiviação. Os resultados mostraram que o consumo de água efetivamente utilizado na aplicação, no sistema com reutilização, foi 25% mais baixo que sem a reutilização da solução. A eficiência no uso da água (EUA) na supervisão das plantas foi de 18,6 quilos de tomate por metro cúbico de água, 61% maior que no cultivo sem reuso (11,5 quilos por metro cúbico de água).
Já a quantidade de fertilizantes utilizados é de 29%, em relação ao sistema sem reuso. Esse resultado corresponde a uma economia de 900 quilos do produto, em apenas um ciclo produtivo de 180 dias e redução de 24% nos custos desse consumo, no sistema com reutilização da solução nutritiva na irrigação.
A análise de custos mostrou que, embora o investimento inicial no sistema com reuso seja maior, seu custo operacional é menor que o do sistema sem reuso, devido à economia com fertilizantes e energia elétrica na supervisão. “Além disso, os custos com implantação são compensados ao longo do ciclo de produção, pela redução de despesas com esses insumos e, com o tempo, essa economia passa a constituir receita, aumentando a rentabilidade na cultura”, complementa o pesquisador.
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Destino sustentávelA Serra de Ibiapaba é um importante polo de produção de hortaliças do Ceará e quase toda a água utilizada na irrigação das culturas é proveniente de aquíferos densos e captados de poços. A retirada desse recurso natural do subsolo implica gastos, especialmente com energia elétrica, e redução dos níveis dos aquíferos. Em sistemas de cultivo irrigados abertos, sem reutilização da solução nutritiva recolhida dos vasos das plantas, há um desperdício significativo de água e nutrientes. Conforme o pesquisador Marlos Bezerra , que acompanha os testes com o sistema de reutilização em folhas, com o sistema de reutilização o produtor evita desperdícios de água e nutrientes e pode diminuir a dependência de recursos hídricos do subsolo. Além disso, possibilita uma destinação sustentável para um produto que em cultivos convencionais seria descartado no meio ambiente. “A eliminação ou redução do descarte desse líquido no solo, por meio da reutilização na própria cultura, tem impactos ambientais expressivos para reduzir riscos de contaminação de águas subterrâneas e mananciais como rios e lagos”, avaliação. Validado para a Serra da Ibiapaba, o sistema de aproveitamento pode ser adaptado para outras localidades do Ceará e outros estados como alternativa para otimizar o uso de recursos hídricos e de nutrientes, além de aumentar a eficiência desses insumos.
Foto: Diva Gonçalves (alface verde cultivada em hidroponia com sistema de reuso de solução nutritiva) |
O uso de água de chuvas misturada com a solução coletada dos vasos das plantas aumenta ainda mais as vantagens do sistema de reutilização, por possibilitar a formulação de uma nova solução nutritiva com água de alta qualidade (baixíssima salinidade) e reduzir a necessidade de uso de águas subterrâneas e de superfície na superfície. Coletada da cobertura das estufas, por meio de calhas e tubulações, essa água deve ser armazenada em um reservatório escavado no solo e revestido com geomembrana (material flexível e impermeável), conforme orientações da pesquisa.
De acordo com os estudos realizados na Serra da Ibiapaba, o volume de água de chuvas coletado da cobertura de uma estufa com área de 2.500 metros quadrados, utilizado em conjunto com a solução nutritiva reaproveitada, foi suficiente para atender a demanda total de água na precisão das plantas de tomateiro, nessa estufa, em dois ciclos de cultivo, ao longo de um ano.
Segundo Bezerra, como o cultivo protegido de hortaliças já é divulgado na região da Ibiapaba, os produtores podem integrar essa produção ao sistema de aproveitamento da solução nutritiva, com a coleta de água da chuva. “Essa estratégia é muito vantajosa tanto do ponto de vista econômico, por reduzir custos na atividade produtiva, como em termos ecológicos, por proteger o meio ambiente”, acrescenta.
Parceria para adoção da tecnologiaDesde março de 2025, o sistema de aproveitamento de solução nutritiva drenada é utilizado também no cultivo hidropônico de folhosas (alface, rúcula, cebolinha e coentro) em substrato de areia, em ambiente protegido por estufas. A sua adoção é viabilizada por meio de parceria com a Empresa Forteagro , localizada em Guaraciaba do Norte (CE), que instalou uma vitrine tecnológica em sua área comercial, para a produção comercial de hortaliças e demonstração de tecnologia para diferentes públicos. "Queremos expandir o cultivo protegido de hortaliças para toda a região de Ibiapaba, agregando o conceito de sustentabilidade. Podemos alcançar diferentes objetivos, desde a disseminação das tecnologias e uso da vitrine como espaço para aprendizagem de produtores e técnicos, até a comercialização do sistema de versatilidade e todos os componentes e insumos necessários para a produção sustentável de hortaliças", destaca Gutenberg Pinto, proprietário da Forteagro. |
Diva Gonçalves (MTb-0148/AC)
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