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Uma pesquisa realizada durante três safras (seis cultivos), em Unaí (MG), aferiu e validou a adubação de restituição associada ao balanço de nutrientes, para maior eficiência e economia no uso de fertilizantes na produção de culturas anuais em solo de Cerrado com fertilidade cultivada. A adubação de restituição é uma prática de reportar no solo nutrientes que são exportados nos produtos colhidos das lavouras.
As estratégias propostas pela pesquisa mostram que é possível o ajuste do transporte de nutrientes das adubações, de forma certificada à utilização consciente dos insumos agrícolas e à conservação dos recursos naturais, contribuindo, ainda, para reduzir a pegada de carbono e aumentar a eficiência energética nos processos de produção.
Arte: Monna Lysa Santana
Uma pesquisa retrospectiva a previsão de que as culturas anuais apresentam elevada demanda de Nitrogênio (N), Fósforo (P) e Potássio (K), levando ao consumo de grandes quantidades de fertilizantes, para suprir os sistemas de produção brasileiros que envolvem os cultivos de soja, milho, algodão, feijão, trigo e sorgo. A demanda por esses nutrientes, para manter a produtividade, representa parte expressiva dos custos das atividades, um dos principais fatores de risco econômico da agricultura do País.
Outro aspecto é que, muitas vezes, mesmo sabendo que o solo já tem alta fertilidade, com disponibilidade de nutrientes acima dos níveis críticos, o agricultor se sente mais seguro quando realiza as adubações que já vinha utilizando há vários anos. Porém, tem sido relatado, em diversas publicações, que os solos em áreas de cultivo consolidado do Cerrado acumularam estoque específico de nutrientes com o passar do tempo, superando a condição de baixa fertilidade original.
publicadoO estudo intitulado “ Adubação de restituição e balanço de nutrientes em solo de fertilidade construída: manejo nutricional responsável na produção de grãos ” foi coordenado pelo pesquisador Álvaro Vilela de Resende , e prolonga por uma equipe envolvendo outros cientistas da Embrapa Milho e Sorgo e da Universidade Federal de Viçosa ( UFV ), além de bolsistas, com apoio da Fazenda Decisão (Unaí – MG). Artigo reportando o estudo e os resultados está publicado na Revista Pesquisa Agropecuária Brasileira ( PAB ), em uma seção especial dedicada à COP 30 . A publicação alinha-se diretamente às temáticas da COP 30, integra a Jornada pelo Clima da Embrapa e marca as comemorações dos 60 anos da PAB. |
Os principais tratamentos, comparados em parcelas de grandes dimensões, num talhão de produção comercial com histórico de longo prazo em planejamento direto e solo com fertilidade construída, envolveram: 1) a adubação de restituição de N, P e K exportados nas colheitas; 2) o manejo padrão da fazenda; e 3) um controle sem adubação NPK. “As avaliações foram realizadas durante três ciclos safra/segunda safra, com soja/milho (ou sorgo), em sistemas com ou sem braquiária em consórcio”, detalha o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo Álvaro Vilela de Resende , que coordenou o estudo.
Foto: Samuel Abreu (vista da área experimental após a colheita de sorgo na segunda safra)
Os resultados, segundo Resende, permitiram constatar que a adubação (ou a ausência dela) não influencia a produtividade da soja, sendo o nitrogênio o fator que mais limita o rendimento do milho, nas condições do talhão treinado. O consórcio com braquiária na segunda safra pode prejudicar o soro e não afetar o milho, mas aumenta subsequentemente a produtividade da soja. "Verificou-se que a adubação de restituição vinculada ao balanço de nutrientes mantém os níveis de produtividade e de rentabilidade, com uso mais eficiente de fertilizantes, enquanto preserva a fertilidade do solo. Assim, é uma estratégia de manejo nutricional inteligente para solos de fertilidade construídos, ao prevenir déficits ou excedentes de nutrientes, contribuindo na busca por desempenho produtivo com sustentabilidade ambiental".
Para o pesquisador essas pesquisas, de certa forma, já eram esperados, tendo em vista os resultados das pesquisas anteriores, envolvendo experimentação em outras regiões e propriedades agrícolas no Cerrado, onde frequentemente tem-se apresentado pouca ou nenhuma resposta à adubação com nutrientes como P e K, sobretudo em solos argilosos. “Mas faltavam elementos mais concretos para convencer definitivamente os produtores e técnicos, de que é necessário e possível melhorar o dimensionamento das adubações de manutenção”, explica Resende.
"Ainda persiste a tendência de se utilizar fertilizantes sempre nas mesmas formulações ou quantidades fixas de N, P e K, recorrentemente, apesar do notável avanço tecnológico e do incremento no potencial produtivo dos ambientes agrícolas no Cerrado. Além disso, em geral, os produtores não se atentam em calcular o balanço de nutrientes, por desconhecerem o valor dessa informação", complementa o pesquisador Miguel Marques Gontijo Neto .
De acordo com Resende, o manejo de proteção para solos de alta fertilidade busca dimensionar as quantidades de nutrientes para fornecer apenas o necessário à modificação do que é exportado na colheita, mais possíveis perdas do sistema. “A estratégia de se adotar a adubação de restituição conjugada com o cálculo do balanço de nutrientes, ao longo do tempo, compatibiliza o fornecimento às coisas realmente exigidas pelo sistema de culturas. O monitoramento se completa com a análise de solo, para acompanhar como a fertilidade oscila em função desse manejo. Assim, com a aplicação de técnicas simples e de baixo custo, evitam-se situações de falta ou excesso de nutrientes, com ganhos de eficiência no uso de fertilizantes”.
Foto: Álvaro Resende (áreas agrícolas consolidadas em plantio direto e solos de fertilidade construídos permitem ajuste fino das adubações)
Embora não seja propriamente uma novidade, a solução validada no estudo viabiliza o dimensionamento das adubações de forma precisa e específica por talhão, podendo inclusive ser automatizada conforme o aparelho de informática e equipamentos já disponíveis em muitas fazendas. O objetivo é ajustar o transporte de nutrientes sempre que necessário, ao longo de uma sequência de cultivos, e está alinhado à crescente necessidade de utilização consciente dos insumos agrícolas e à conservação dos recursos naturais.
“São situações comuns de desequilíbrio entre as quantidades de nutrientes via adubação adicionadas e removidas nos produtos colhidos das atividades. O balanço desfavorável ao longo do tempo prejudica a produtividade quando há déficit, ou leva ao desperdício de fertilizantes quando há excedente de nutrientes. Além de resultarem em perda de rentabilidade, ambas as situações também podem implicar maior pegada de carbono do produto colhido. Portanto, a estratégia na publicação também pode contribuir para maior eficiência energética e neutralidade ambiental nos processos de produção em áreas de agricultura consolidada. no Brasil”, conclui Álvaro Resende.
Sandra Brito (MTb 06.230/MG)
Embrapa Milho e Sorgo
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