O Salmo 35 é um salmo de lamentação individual e um pedido de justiça. Nele, Davi (tradicionalmente o autor) clama a Deus para que o defenda contra inimigos cruéis e injustos que o perseguem sem motivo. É um texto que expressa dor, frustração e uma profunda confiança na intervenção divina.
O Salmo 35 pode ser dividido em três seções principais, cada uma terminando com uma promessa de louvor a Deus:
1. Oração por Libertação e Punição dos Inimigos (v. 1-10)
A Súplica por Intervenção Divina: Davi clama a Deus para que Ele atue como um guerreiro em sua defesa. Ele pede que Deus "pleiteie" sua causa, "pelejando" contra seus adversários. As imagens militares (escudo, rodela, lança, machado) são fortes e expressam a urgência e a seriedade da ameaça.
O Desejo de Justa Retribuição: O salmista pede que seus inimigos sejam envergonhados, dispersos e que a destruição que eles tramaram caia sobre suas próprias cabeças. Esta não é uma vingança pessoal no sentido mesquinho, mas um desejo de ver a justiça de Deus prevalecer contra a injustiça manifesta.
Confiança na Salvação: Apesar do perigo, Davi expressa sua convicção de que Deus é o único que pode livrá-lo. Ele já antecipa o regozijo e o louvor pela salvação divina, questionando: "Senhor, quem é como tu, que livras o aflito daquele que é mais forte do que ele?"
2. A Ingratidão e a Perseguição dos Inimigos (v. 11-18)
A Natureza da Injustiça: Davi detalha a maldade de seus oponentes. Eles são "falsas testemunhas" que o acusam de coisas que ele não sabe. A ingratidão é um tema central: eles lhe retribuíram o mal pelo bem, "para consternação da minha alma".
O Caráter Benevolente do Salmista: Davi contrasta sua própria bondade com a malícia de seus inimigos. Ele demonstra que, quando eles estavam em dificuldades, ele jejuou, orou e os tratou como amigos ou irmãos, lamentando-se por eles como por sua própria mãe.
A Dor da Zombaria e da Traição: A recompensa de Davi por sua compaixão foi o escárnio e a alegria de seus inimigos em sua própria adversidade. Eles se "ajuntaram" contra ele, "despedaçaram-no" e "rangeram os dentes" em zombaria.
Novo Clamor: A intensidade do sofrimento leva Davi a um novo clamor: "Até quando, Senhor, olharás para isso?" Ele implora a Deus que o salve.
Promessa de Louvor Público: Mais uma vez, Davi promete render graças a Deus "na grande congregação", louvando-O publicamente.
3. Pedido Final por Juízo Divino e Proclamação da Justiça de Deus (v. 19-28)
O Desejo pela Justificação: Davi pede que seus inimigos não se alegrem com sua queda e que suas maquinações sejam frustradas. Ele os descreve como aqueles que "não falam de paz, mas maquinaram enganos contra os pacíficos da terra".
O Apelo à Testemunha Divina: Ele reafirma que Deus "tem visto" toda a injustiça e O exorta a não Se calar, mas a "despertar e acordar para o meu juízo".
O Triunfo da Justiça: O salmo conclui com a esperança de que aqueles que amam a justiça de Deus se alegrem e engrandeçam o Senhor, que "se deleita na prosperidade do seu servo". Davi, por sua vez, promete que sua língua falará "da tua justiça e do teu louvor todo o dia".
O Salmo 35 é um grito honesto de um coração aflito que se sente injustiçado e traído. Ele não hesita em expressar o desejo de que a justiça de Deus se manifeste plenamente, tanto na proteção do inocente quanto na retribuição aos ímpios. Acima de tudo, é um testemunho da fé inabalável de que Deus é o último Juiz e o Defensor daqueles que n'Ele confiam, trazendo, ao final, louvor e paz ao Seu servo.