Economia Embrapa
Consórcio de gramíneas com leguminosas em ILP eleva ganho de peso bovino e reduz emissões de metano
Pesquisadores avaliaram como diferentes estratégias de intensificação na pecuária influenciam o ganho de peso de bovinos nelore, a emissão de metano entérico e o acúmulo de carbono no solo
24/12/2025 09h40
Por: Redação Fonte: Embrapa
Foto: Thais Rodrigues de Sousa
  • Pesquisadores da Embrapa e da UnB avaliaram a influência de diferentes estratégias de intensificação no ganho de peso de bovinos da raça Nelore BRGN.
  • Avaliaram também o impacto na emissão de metano entérico e no acúmulo de carbono no solo.  
  • Em comparação com a pastagem de referência, os sistemas integrados elevaram o ganho de peso médio diário dos bovinos em 72% no sistema com BRS Zuri rotacionado com lavoura, e em 56%, no sistema de pasto contínuo de BRS Piatã consorciado com feijão guandu IAPAR 43.
  • O desempenho ambiental também foi melhor nos sistemas integrados: a intensidade de emissão de metano foi 60% e 49% menor no sistema consorciado e rotacionado, respectivamente, em comparação com a pastagem única, com resultados positivos também no acúmulo de carbono no solo até 30 cm.
  • Os resultados reforçam a contribuição de sistemas integrados para uma pecuária mais resiliente, sustentável e produtora de carne com baixo carbono.

 

Sistemas de integração laboral-pecuária (ILP) que incluem consórcio entre leguminosas e gramíneas forrageiras de maior potencial produtivo promovem melhor desempenho animal e menor intensidade de emissão entérica de metano (CH₄), além de aumentar o acúmulo de carbono no solo. A conclusão é de um estudo conduzido pela Embrapa Cerrados (DF), em parceria com a Universidade de Brasília ( UnB ). O trabalho científico foi destaque em simpósio internacional coordenado pelo Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCARBON), da Universidade de São Paulo ( USP ). Veja quadro abaixo.

Os resultados fazem parte da tese de doutorado da bolsista Thais de Sousa, que está sendo desenvolvida com a colaboração dos pesquisadores da Embrapa Cerrados Arminda de Carvalho , Roberto Guimarães Junior e Robélio Marchão , sob orientação da professora da UnB Lucrécia Ramos.

Durante o estudo, os pesquisadores avaliaram como diferentes estratégias de intensificação na pecuária influenciam o ganho de peso de bovinos nelore BRGN, a transferência de metano entérico e o acúmulo de carbono no solo. Foram estudados três sistemas de produção: uma pastagem contínua única de capim BRS Piatã (S1); uma pastagem contínua de BRS Piatã consorciada com leguminosa feijão-guandu IAPAR 43 (S2); e uma pastagem em rotação com trabalho (ILP) de capim BRS Zuri (S3).

Os resultados mostraram que os animais apresentaram maior ganho de peso em sistemas mais intensificados. No S1, o ganho médio diário foi de 0,44 kg; não S2, de 0,69 kg; e no S3, de 0,76 kg por animal. A intensidade de emissão de metano, que expressa a relação entre emissão e o ganho de peso total por área foi menor nos sistemas S2 e S3. Por outro lado, a pastagem única utilizada como referência no estudo alcançou 450 g CH₄ kg GPV/ha (quilo de ganho de peso vivo por hectare), o consórcio com leguminosa publicou 269 g CH₄ kg GPV/ha e o sistema integrado com capim Zuri em entregas, 224 g CH₄ kg GPV/ha.

O estoque de carbono no solo na camada de 0 – 30 cm acompanhou a mesma tendência, sendo maior nos sistemas integrados, com destaque para o S2 com a presença da leguminosa, que apresentou 83,17 t C ha⁻¹ (toneladas por hectare), em comparação a 62,20 t C ha⁻¹ na pastagem isolada, ou seja, mais de 20 t ha⁻¹ de incremento de C no consórcio do Piatã com o guandu anão.

Emissões de GEE

O estudo também demonstrou que é possível intensificar a produção peculiar e, ao mesmo tempo, mitigar as emissões de GEE. Sistemas bem gerenciados, seja com a inclusão de leguminosas ou com a rotação laboral-pecuária, permitiram maior produção de carne com menor emissão de metano, além de aumentarem o carbono armazenado no solo, melhorando o balanço geral. Os resultados anteriores obtidos na mesma área experimental já demonstraram que os sistemas integrados também são controlados pelas emissões de óxido nitroso (N2O), um outro gás de efeito estufa, em até 59%.

Esses resultados evidenciam que tecnologias como o consórcio de pastagens com leguminosas e a rotação com trabalho são fundamentais para tornar a pecuária mais sustentável e resiliente, contribuindo para a redução dos gases de efeito estufa e uma produção de carne de baixo carbono.

Os dados foram coletados no experimento com sistemas ILP mais antigos do Brasil, localizado na Embrapa Cerrados e implantado em 1991. As entregas foram feitas em maio, agosto e dezembro de 2024.

Metano no centro dos debates

O Brasil é um dos maiores produtores de carne bovina do mundo, e mais de 90% dessa produção ocorre em sistemas a pasto, que ainda apresentam grande potencial de intensificação. A emissão de metano entérico, gerada no processo digestivo dos animais, tem um alto potencial de aquecimento global, 27 vezes maior que o do CO₂ em 100 anos, sendo influenciada principalmente pela qualidade, disponibilidade e consumo de forragem por ruminantes.

O tema foi destaque nas discussões sobre como a agropecuária brasileira pode contribuir para a mitigação das mudanças climáticas durante a COP30, realizada em Belém (PA). “A redução das emissões sem comprometer o desempenho animal é um dos principais desafios da agropecuária, e sistemas integrados, consorciados ou intensivos têm se apresentadas alternativas viáveis ​​na descarbonização desse setor”, afirma a pesquisadora Arminda de Carvalho.

 

Atualização das recomendações

Recomendações sobre o uso de leguminosas em consórcio com pastagens estão sendo atualizadas. Uma técnica circular com orientações para a introdução do guandu-anão em consórcio com capim-braquiária, em sistema de plantio direto, foi publicada em setembro deste ano pela equipe de especialistas da Embrapa Cerrados e está disponível para consulta  aqui .

Segundo o pesquisador Robélio Marchão, da Embrapa Cerrados tem atuado em projetos voltados para posicionar novas cultivares de forrageiras em sistemas integrados, de acordo com suas funcionalidades.

“Trata-se de um novo conceito, em que as plantas forrageiras têm sido utilizadas como espécies de duplo propósito ou plantas de serviço, podendo atuar tanto como pastagens nas áreas de integração com a pecuária quanto como plantas de cobertura nas áreas agrícolas, desempenhando papéis específicos na melhoria do sistema de produção”, destaca o pesquisador.

No caso do consórcio com guandu-anão, a equipe ressalta que, além de elevar o valor nutritivo da forragem, há uma melhoria na qualidade do solo que impacta diretamente a gramínea, aumentando a disponibilidade de nitrogênio em formas orgânicas.

 

Menção honrosa

O trabalho “Emissão entérica de metano em bovinos Nelore e estoque de carbono no solo em sistemas integrados no Cerrado” recebeu menção honrosa como destaque do “3º Simpósio CCARBON/USP – Pecuária Sustentável e Resiliente: Estratégias Ecológicas para Mitigação das Mudanças Climáticas e Conservação da Biodiversidade”.

Segundo a doutoranda Thais de Sousa, o prêmio representa mais do que um reconhecimento acadêmico, pois materializa o esforço de uma equipe multidisciplinar que se comprometeu para a realização do trabalho e reforçar a importância das pesquisas sobre redução das emissões de gases de efeito estufa no setor agropecuário.

O 3º CCARBON/USP foi organizado pelo Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical da USP e realizado em 6 de novembro, no auditório do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA/USP), em Piracicaba (SP). O evento reuniu pesquisadores, empresas, formuladores de políticas públicas e produtores para discutir estratégias sobre uma produção pecuária mais sustentável e voltada para a redução das emissões de gases de efeito estufa.

 

Fotos: Thaís Rodrigues de Sousa

 
 

Juliana Caldas (MTb 4861/DF)
Embrapa Cerrados

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