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Alta dos juros deve pressionar custo da dívida de empresas

Levantamento do Valor Data mostra que relação dívida líquida/Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 23 companhias, das cem maiores em receita, está acima de 3 vezes

09/01/2025 às 07h57
Por: Redação Fonte: PT na Camara
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Cenário de dificuldades deve elevar o número de pedidos de recuperação judicial e extrajudicial. Foto: Beto Nociti (BCB)
Cenário de dificuldades deve elevar o número de pedidos de recuperação judicial e extrajudicial. Foto: Beto Nociti (BCB)

Um estudo do Valor Data alerta para os efeitos danosos da política monetária do Banco Central, presidido até o final de 2024 pelo bosonarista Roberto Campos Neto. Segundo o levantamento, as empresas com maior pressão sobre o custo da dívida deverão sentir mais fortemente os efeitos do novo ciclo de aumento de juros já nos primeiros meses de 2025, o que tende a acelerar os pedidos de reestruturação das companhias, incluindo pedidos de recuperação judicial, que já estão em nível recorde.

O assunto é um dos destaques da edição do jornal Valor Econômico desta segunda-feira (6). A matéria mostra que, considerando as 100 maiores empresas na bolsa em termos de receita – a grande maioria de capital aberto -, 23 estão com o índice de alavancagem medido pela razão entre dívida líquida e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) acima de 3 vezes, considerado elevado. Destas, 11 elevaram esse indicador no terceiro trimestre de 2024 em relação ao mesmo período de 2023. Nesta amostragem também estão empresas não listadas.

 

Ricardo Knoepfelmacher, consultor de reestruturação e sócio da RK Partners, afirma que “qualquer empresa com uma alavancagem próxima a três vezes precisa reestruturar sua dívida em momentos em que a Selic ultrapassa os 12%”, patamar que acaba de ser atingido pela última decisão do Copom. “Se trata de um sinal amarelo muito forte”, afirma ele.

O Consultor afirma que tanto as recuperações judiciais quanto as extrajudiciais “são medidas extremas”, e que, antes de a situação financeira se deteriorar, o ideal é que a empresa se sente com seus credores para abrir negociações, reveja os planos de negócio e coloque alternativas para desalavancagem na mesa, como a venda de ativos.

Knoepfelmacher aponta um estudo feito pela RK Partners, referente ao terceiro trimestre, com 403 empresas, entre médias e grandes, com dados financeiros públicos. Nesse levantamento, 27% não tinham capacidade de servir a dívida. Sua projeção é que, com os dados do último trimestre de 2024, essa fatia suba para 30%. “Muitas empresas estão adiando conversas difíceis e jogando para 2025.”

Dificuldade para pagamento

O número de empresas com problemas, no entanto, é ainda maior. Incluídas as pequenas e médias, a lista com menor capacidade de pagar a dívida cresce consideravelmente, segundo a Seneca Evercore. “Empresas médias estão com metade do índice de cobertura que tinham há dois anos. Ou seja, a capacidade de pagar seu serviço de dívida caiu pela metade”, afirma Daniel Wainstein, sócio da Seneca no Brasil. “Tem muita empresa média insolvente. Não me surpreende que o número de recuperações judiciais tenha aumentado.”

Douglas Bassi, sócio da empresa de reestruturação VirtusBR, diz que, com o atual cenário, empresas do setor imobiliário e de capital intensivo terão mais impacto, lembrando que, embora haja recursos, o crédito está mais caro.

 

O sócio da gestora Journey e presidente do Conselho de Administração da TMA Brasil (Turnaround Management Association), Luiz Fabiano Saragiotto, diz que a “expectativa está muito ruim” e as empresas que renegociaram prazos de vencimento em 2024, esperando queda de juros, terão de adotar ações mais proativas, o que deve elevar o número de pedidos de recuperação judicial e extrajudicial.

Varejo e indústria

Muitas companhias de varejo, infraestrutura e da indústria têm trabalhado nos últimos meses na redução da alavancagem, parte delas com a venda de ativos.

Em outubro, a Marfrig informou que recebeu R$ 5,7 bilhões pela venda de 13 ativos, negociação que totalizou R$ 7,2 bilhões. Segundo a companhia, se esses recursos tivessem sido recebidos no terceiro trimestre, a alavancagem seria de 2,56 vezes no  período. O grupo encerrou o terceiro trimestre com a sexta redução trimestral consecutiva na alavancagem consolidada, alcançando 3 vezes, em reais, medida pela relação dívida líquida consolidada sobre o Ebitda ajustado consolidado.

 

PT Nacional, com informações do Valor Econômico

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