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Comunidades agroextrativistas do Acre estão adotando uma técnica inovadora para a produção de mudas de castanheira-da-amazônia (também conhecida como castanheira-do-brasil ou castanheira-do-pará). Desenvolvido por pesquisadores da Embrapa em parceria com os próprios extrativistas, o método se baseia em mini estufas — um sistema simples, prático e de baixo custo —, que têm se mostrado eficientes para a germinação e crescimento das plantas. A espécie é fundamental para a economia e o meio ambiente da região amazônica.
Mais de 360 extrativistas do Acre já foram capacitados nessa técnica e há casos dos que começaram a produzir mudas tanto para o plantio em suas propriedades quanto para iniciativas de regeneração florestal ou comercialização. De acordo com a pesquisadora Lúcia Wadt, da Embrapa Rondônia, o método foi criado pensando na realidade das comunidades, que enfrentam desafios logísticos para transportar mudas produzidas em viveiros convencionais.
“As mini estufas são confeccionadas a partir de baldes plásticos reutilizados, criando um ambiente controlado que favorece o desenvolvimento das mudas”, explica a pesquisadora. “Nossa meta foi tornar a produção mais acessível e viável, principalmente em pequena escala, em que há maior necessidade de soluções práticas e econômicas.”
Foto: Emanuelle Granja
Reconhecida pela produção de castanhas de alto valor econômico no mercado nacional e internacional, a castanheira é uma espécie essencial para pequenos produtores e agroextrativistas. Contudo, o cultivo enfrenta desafios como a dormência das sementes, que possuem cascas duras, a falta de uniformidade na germinação e o ataque de roedores, atraídos pelas castanhas presas às mudas.
A principal forma de propagação da castanheira é por meio de sementes. Há diversas recomendações documentadas para a produção de mudas em viveiros florestais, o que exige estrutura e mão de obra especializada. São utilizadas sementeiras suspensas e canteiros com sombra e proteção contra animais, além do uso de insumos agrícolas, como sacolas plásticas ou tubetes para a germinação.
No entanto, essa tecnologia é pouco acessível para pequenos produtores e agroextrativistas que desejam produzir mudas em pequena escala, principalmente para uso próprio. Muitos relatam dificuldades na produção de mudas de castanheira.
A técnica das mini estufas busca resolver esses problemas, simplificando a produção e tornando-a mais acessível para comunidades que dependem do extrativismo. “No método tradicional, é preciso ter irrigação ou alguém que regue três a quatro vezes diariamente. No método da mini estufa, essa frequência é eliminada; é preciso molhar, claro, mas a muda estará mais estabilizada”, afirma Wadt.
A pesquisadora considera que o desenvolvimento dessa metodologia representa um avanço significativo para a produção de castanhas em áreas agroextrativistas. Ela permite que os produtores aproveitem melhor o potencial de suas áreas de plantio, estabelecendo novas castanheiras ou enriquecendo florestas degradadas “Além de ter potencial de promover práticas agrícolas mais sustentáveis na região amazônica ”, conclui.
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O plantio de castanheiras em consórcio com outras espécies ajuda a restaurar ecossistemas degradados, reforçando a resiliência das comunidades frente às mudanças climáticas. Além disso, a produção de mudas promove práticas agrícolas sustentáveis, alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, como a erradicação da fome e a proteção ambiental.
A técnica das mini estufas representa uma solução prática e escalável, com potencial para transformar a produção de castanheiras na região, unindo ciência, sustentabilidade e o fortalecimento das comunidades locais.
A legislação brasileira, regulamentada pela Lei nº 10.711/2003, exige que produtores se inscrevam no Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem). Contudo, pequenos produtores que comercializam até 10 mil mudas por ano são isentos de algumas exigências, facilitando o desenvolvimento de negócios locais na Amazônia.
Priscila Viudes (Mtb 030/MS)
Embrapa Acre
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Emanuelle Araujo Granja (MTb 2252/RO)
Embrapa Rondônia