Em mais uma etapa do Processo de Eleições Diretas (PED) do Partido dos Trabalhadores, lideranças e militantes petistas se reuniram nesta quinta-feira (22), em Curitiba, em dois eventos que reuniram nomes estratégicos do partido. A presença de Edinho Silva, candidato à presidência nacional do PT, serviu como catalisador das articulações internas no Paraná, sobretudo em torno da candidatura do deputado federal Zeca Dirceu à presidência estadual da legenda.

Acolhido por militantes e dirigentes petistas de todas as regiões do Paraná, Edinho participou ao longo do dia em Curitiba de atividades de campanha da corrente CNB - Construindo um Novo Brasil -, mesma em que atua o Presidente Lula e o deputado Zeca Dirceu, mais conhecida como o campo majoritário do PT.  À tarde, durante encontro com apoiadores da candidatura do deputado Zeca à presidência do Partido no estado, ficou evidente o alinhamento das propostas de Edinho e Zeca para a renovação e o fortalecimento do PT. Já à noite, foi a vez de um encontro geral com petistas da Região Metropolitana de Curitiba e de diversos municípios do interior para reforçar os compromissos das candidaturas que disputam o PED com o projeto nacional da sigla e das forças do campo da esquerda no estado e no país.

Para Edinho Silva, o momento vivido pelo partido transcende a disputa interna e exige uma reflexão sobre os desafios externos, sobretudo diante do avanço de correntes autoritárias no cenário global e nacional. “Nós estamos vivendo um momento político difícil, com o avanço do fascismo no contexto internacional”, afirmou. Segundo ele, o PT deve assumir a responsabilidade histórica de resistir a essas tendências, ampliando sua capacidade organizativa e política: “Nós teremos que dar continuidade à construção desse partido, teremos uma responsabilidade de dar continuidade ao legado do PT, do Lula, dos sindicalistas, dos movimentos negros, movimentos populares”.

A fala foi acompanhada de um reconhecimento ao papel de Zeca Dirceu, que Edinho considera uma das principais lideranças do PT no Congresso Nacional. “Mesmo carregando o legado de uma das maiores lideranças da história política brasileira, que é o José Dirceu, Zeca hoje se afirma pela sua capacidade própria de articulação e de construção de debates”, disse. Edinho ressaltou ainda que o apoio de Zeca foi um dos primeiros que recebeu nesta disputa interna e que o deputado será “fundamental em tudo o que eu fizer enquanto presidente do PT”.

A situação do PT no Paraná e defesa da unidade

Durante os encontros, Zeca Dirceu fez um diagnóstico crítico da situação atual do PT no estado. Para ele, a legenda vive um dos momentos mais desafiadores de sua trajetória, com desempenho abaixo das expectativas em eleições recentes. “Somos hoje o quarto estado mais rico, mais populoso do Brasil e, infelizmente, um dos estados em que o PT amargou um dos seus piores resultados do ponto de vista da conjuntura nacional”, afirmou.

Ele citou como exemplo a comparação com estados vizinhos, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que mesmo em cenários adversos conseguiram ampliar a representação petista nas últimas eleições municipais. “No Paraná, elegemos apenas três prefeitos, enquanto no Rio Grande do Sul foram vinte. Isso evidencia que os desafios aqui são imensos”, reforçou o deputado.

A defesa da candidatura à presidência estadual do partido, segundo Zeca, está ancorada na necessidade de mudança e renovação da condução partidária. “Aceitei esse desafio porque acredito muito no estado, acredito muito no partido, acredito muito nos nossos filiados e militantes”, declarou. Para ele, há um desejo coletivo de mudança: “Havia, sim, uma maioria, um desejo muito grande por mudança, por renovação, por uma alternância, principalmente no jeito de conduzir o dia a dia da política e do partido”.

Apesar das críticas ao desempenho do PT no estado, Zeca fez questão de reforçar o compromisso com a unidade interna. Para ele, as eleições do partido, que se encerram em 6 de julho, não podem ser um fator de divisão. “De hoje até o dia 6 de julho vai ter muito empenho e muita dedicação, mas a disputa acaba no dia 6. Depois, a unidade tem que prevalecer”, afirmou.

Zeca também enfatizou a importância do apoio nacional e reconheceu em Edinho Silva uma liderança com experiência para conduzir o PT neste momento político. “Todos nós vamos precisar muito de você, da sua liderança”, disse, dirigindo-se ao candidato nacional. “O Paraná tem desafios dos mais complexos para superar e nós vamos precisar de dirigentes comprometidos com a reorganização do partido”.

Reconstrução e memória política

Zeca também fez questão de resgatar o histórico de protagonismo do PT no Paraná, lembrando que o partido já governou cidades importantes como Ponta Grossa, Maringá e Londrina, além de ter disputado o segundo turno em Curitiba e ter elegido Gleisi Hoffmann para o Senado. “O partido tem história aqui no estado, tem força. Já governou centenas de municípios, como eu governei duas vezes Cruzeiro do Oeste. A gente já teve um número muito grande de vereadores, nas pequenas e nas grandes cidades”, recordou.

A memória do passado, para ele, é um estímulo à reconstrução. Zeca também expressou confiança na capacidade de Edinho de liderar nacionalmente esse processo de reorganização partidária. “Aqui ninguém titubeou, ninguém pensou duas vezes. A gente acredita muito no Edinho, que sabe da necessidade que o PT tem de dar uma grande virada, de ousar, de se transformar, não só continuar sendo o maior partido desse país, mas continuar sendo um partido vitorioso”, afirmou.

Reorganização para resistir

O evento evidenciou a sintonia entre as propostas de reorganização do PT no estado e no plano nacional. De um lado, Edinho Silva articula sua candidatura em torno da continuidade do projeto político liderado pelo presidente Lula, com atenção especial ao fortalecimento das bases sociais do partido. De outro, Zeca Dirceu propõe uma renovação na forma de condução política no Paraná, com foco na formação militante, na comunicação partidária e na ampliação da presença nos municípios.

“A política que dá certo não é um ato solitário”, disse Edinho, destacando a necessidade de atuação coletiva e de fortalecimento das alianças internas. A afirmação dialoga diretamente com a proposta de Zeca, que vê na unidade e na reorganização os caminhos para o PT recuperar protagonismo no Paraná. “Tudo o que eu puder ser útil, como presidente estadual, você pode ter certeza: vai ter um grande aliado”, afirmou Zeca, dirigindo-se a Edinho.