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Cafezais das Matas de Rondônia sequestram 2,3 vezes mais carbono do que emite

Agricultores familiares trabalham na pós-colheita e secagem do café

Por: Redação Fonte: Embrapa
27/05/2025 às 11h31
Cafezais das Matas de Rondônia sequestram 2,3 vezes mais carbono do que emite
Foto: Enrique Alves
  • A média é resultado da diferença entre o carbono estocado na biomassa das plantas e a emissão de GEE durante a fase de produção agrícola do café.
  • Pesquisa poderá embasar outros estudos e contribuir para a abertura de linhas de créditos de carbono.
  • Iniciativa resultou ainda na criação de uma planilha de cálculos da emissão de carbono, que poderá ser testada por agricultores locais no Rondônia Rural Show Internacional.
  • Levantamentos para mensurar o estoque de carbono no solo já começaram e poderão tornar o balanço ainda mais favorável em análises futuras.
  • Práticas agrícolas sustentáveis, como a substituição parcial do uso de fertilizantes químicos por fontes orgânicas, contribuem para reduzir a emissão de GEE.

Um estudo inédito realizado na região das Matas de Rondônia revela que a cafeicultura familiar praticada nesse território da Amazônia brasileira apresenta um balanço favorável de carbono. Os resultados dessa pesquisa apontam que as plantações de Café Robusta Amazônico - uma variedade local do café canéfora (Coffea canephora) - sequestram, em média, 2,3 vezes mais carbono, anualmente, da atmosfera do que as emissões geradas no processo produtivo agrícola.

A pesquisa demonstra que o balanço anual de carbono da região registra um saldo favorável de 3.883,3 kg, ou cerca de 4 toneladas por hectare ao ano. A média vem da diferença entre o carbono estocado na biomassa das plantas (6.874,8 kg) e a emissão de gases de efeito estufa (GEE) durante a fase de produção do café (2.991,5 kg). Por seu ineditismo, o balanço poderá ser utilizado como referência para outras pesquisas e, até mesmo, para abertura de linhas de créditos de carbono.

A iniciativa resultou também na criação de uma planilha de cálculos da emissão de carbono para uso dos agricultores locais. A intenção é mostrar o status atual de emissão do cafeicultor do estado, considerando critérios como irrigação, uso de fertilizantes, entre outros.

 

Apresentação dos resultados e simulações com a nova planilha

Os resultados da pesquisa da Embrapa estão sendo apresentados no Rondônia Rural Show Internacional, de 26 a 31 de maio, em Ji-Paraná (RO).  Essa é a maior feira de agronegócios da Região Norte e tem o objetivo de fomentar a integração entre ciência e setor produtivo.

O evento será uma oportunidade para que os produtores de café testem essa planilha e façam simulações de forma a avaliar se os valores das emissões de seus sistemas de cultivo estão acima ou abaixo do balanço médio do estado.

 

“Estamos muito felizes com o resultado dessa pesquisa”, afirma Juan Travian, presidente da Cafeicultores Associados da Região das Matas de Rondônia (Caferon). “O estudo comprova a sustentabilidade da cafeicultura praticada no bioma Amazônia. Para nós, é importantíssimo mostrar ao mundo, por meio da ciência, que a produção de café na Amazônia é sustentável”, complementa.

 

O presidente do Conselho de Administração do Sicoob Credip, Oberdan Pandolfi Ermita, ressalta que a monetização do carbono é um mercado novo que vem estimulando uma corrida de metodologias para calcular esse balanço. Para ele, o estudo da Embrapa consegue capturar a especificidade do Café Robusta Amazônico, considerando as condições fitoclimáticas da região. “São dados muito relevantes. Nosso objetivo é que seja trabalhada a monetização desse carbono, de modo a beneficiar o cafeicultor das Matas de Rondônia diretamente, ou por meio da redução da taxa de juros”, diz. 

 

COP30,  Jornada pelo Clima e Integra Carbono Embrapa

O projeto com os Cafés Robustas Amazônicos foi selecionado para ser apresentado na vitrine viva do Espaço AgriZone, exposição que será a casa da agricultura sustentável brasileira em Belém, na sede da Embrapa Amazônia Oriental, durante a COP30, de 10 a 21 de novembro próximo.

Esta matéria integra a série da Agência Embrapa de Notícias relacionada à iniciativa da Empresa Jornada pelo Clima. A ideia é identificar reportagens sobre ações de PD&I e tecnologias que favorecem a sustentabilidade dos sistemas agroalimentares e dos biomas, de forma alinhada com os temas da COP 30.

Confira também outros resultados da Empresa e parceiros voltados à descarbonização da agricultura na página Integra Carbono Embrapa. A iniciativa é voltada à agregação de dados e resultados de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) capazes de contribuir para a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) nos sistemas agroalimentares e florestais.

 

Sequestro de carbono

O pesquisador da Embrapa Territorial Carlos Cesar Ronquim, líder do estudo, acredita que o cafeeiro pode atuar como uma ferramenta de remoção de carbono. Por ser uma planta lenhosa, ela possui capacidade de armazenar grandes quantidades de carbono por mais tempo. Ronquim ressalta, no entanto, que o carbono sequestrado temporariamente na biomassa da planta do café retorna à atmosfera quando a lavoura é renovada ou desativada. Ele observa ainda que, se essas plantas forem utilizadas como substitutas de combustíveis fósseis, isso pode contribuir efetivamente para um balanço de carbono mais positivo na produção.

O estudo contou ainda com as participações do professor Eduardo Figueiredo, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar - Campus Araras), e do bolsista da Embrapa Territorial (SP) Guilherme Silva.

Foto: Marcos Oliveira 

 

Os dados usados na pesquisa foram coletados em campo. O estoque de carbono armazenado nas plantas foi gerado a partir das análises laboratoriais de amostras de cafeeiros adultos (foto acima - média de idade de oito anos) obtidas nas lavouras. Os dados das emissões foram levantados por meio da aplicação de questionários e em reuniões com produtores locais.

Para quantificar o carbono estocado na planta, foram avaliados 150 cafeeiros adultos em dez propriedades rurais de cinco municípios da região das Matas de Rondônia. As análises laboratoriais mostraram que a maior parte do carbono está concentrada no tronco (36,4%), seguido por raízes (24,3%), folhas (23,8%), galhos (10,1%) e frutos (5,4%).

O pesquisador Enrique Alves, da Embrapa Rondônia (RO), ressalta que muitos cafeicultores das Matas de Rondônia substituem parcialmente o uso de fertilizantes químicos por fontes orgânicas - como cama de frango e palha de café. “Essa prática favorece o pleno desenvolvimento vegetal das plantas, o acúmulo de carbono no solo ao longo do tempo, e a menor emissão de GEE, quando comparada aos fertilizantes nitrogenados sintéticos”, observa.

“As plantas da variedade botânica robusta são de grande porte e com alta capacidade produtiva. Isso, aliado a boas práticas agronômicas e novos arranjos espaciais mais adensados, fazem da cultura uma ferramenta de proteção do solo e sequestro de carbono”, ressalta o pesquisador.

O cálculo da pesquisa ainda não considera o carbono estocado no solo, o que poderá tornar o balanço ainda mais favorável em análises futuras. O projeto já direciona esforços para essa finalidade, comparando áreas de café, pastagens e florestas nativas. A expectativa é que o cultivo bem manejado do Café Robusta Amazônico em áreas antes ocupadas por pastagem resulte em aumento líquido de carbono no sistema, principalmente em pastagens degradadas.

“As coletas estão em andamento, com várias incursões de campo já realizadas. Acreditamos que as atividades de campo serão concluídas ainda neste semestre”, adianta o pesquisador Ronquim.

 

Levantamento das emissões

O levantamento das emissões foi realizado em 250 propriedades localizadas em 15 municípios das Matas de Rondônia. Os dados foram coletados por aplicação de questionários durante visitas de campo e reuniões e entrevistas com os produtores, com o apoio de técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater - RO). O objetivo foi mapear as principais fontes de emissão de gases de efeito estufa associadas à cafeicultura local, como o uso de calcário e fertilizantes (sintéticos nitrogenados e orgânicos), o consumo de combustíveis fósseis nas operações agrícolas e o uso de energia elétrica nos sistemas de irrigação. Com base nesses dados, foi possível calcular a pegada de carbono da produção de café na região.

A pegada de carbono representa a quantidade total de GEE emitido durante o processo produtivo. Essa análise permite a adoção de ajustes técnicos que reduzem as emissões, promovendo uma agricultura de baixo carbono. A cafeicultura das Matas de Rondônia registrou a pegada de carbono média de 0,84 kg de gás carbônico equivalente por kg de café verde produzido. Em prática, isso significa que cada quilo de café verde produzido (quando são considerados só os grãos e desconsideradas outras partes do fruto do café) emite 0,84 quilos de GEE.

Ronquim explica que esse resultado coloca o Café Robusta da Amazônia brasileira em posição favorável em relação à média global, especialmente quando comparado a outros cultivos tradicionais a pleno sol. Os dados do estudo foram comparados com análises feitas por outros trabalhos científicos, englobando revisões e valores médios de pesquisa (que comparam sistemas de cultivo a pleno sol com os de agroflorestas) em centenas de propriedades cafeeiras nos principais países produtores com destaque para a região da América Central.

O pesquisador ressalta que a pegada de carbono varia conforme diversos fatores, como o local do estudo, o clima, o tipo de solo, o manejo adotado, a variedade ou clone utilizado, tecnologias aplicadas, insumos e ainda metodologia empregada.

O estudo apontou que cerca de 80% da pegada de carbono é resultante da aplicação de fertilizantes nitrogenados sintéticos. Isso porque existe uma relação direta entre o aumento da dose de nitrogênio e o crescimento das emissões: quanto maior a aplicação de nitrogênio, maiores as perdas e menores as taxas de aproveitamento pela planta. Esse impacto pode ser mitigado com práticas como o uso de adubos orgânicos em substituição de parte do fertilizante sintético, o cultivo consorciado com leguminosas fixadoras de nitrogênio e o uso racional de insumos.

A cafeicultura bem manejada, com uso eficiente de recursos e estratégias de mitigação, torna-se uma aliada no combate às mudanças climáticas. O desafio de conciliar produtividade e sustentabilidade é cada vez mais relevante em um cenário global de busca por práticas agrícolas de baixo carbono. “A cafeicultura amazônica entra em uma nova fase de modernização do sistema de cultivo. Isso inclui práticas regenerativas, como manejo da cobertura do solo, uso de Sistemas Agroflorestais (SAFs), ampliação da adubação orgânica, substituição de agroquímicos por biológicos e uso racional e parcelado da adubação química nitrogenada por meio da fertirrigação (técnica que aplica fertilizantes diluídos na água da irrigação). Além disso, a Embrapa, em um processo de melhoramento participativo, tem ajudado os cafeicultores na seleção dos materiais genéticos com maior potencial produtivo, qualidade e, principalmente, resiliência climática”, enfatiza Alves.

Além das práticas agronômicas sustentáveis, destaca-se também a eficiência na gestão das lavouras por parte dos pequenos cafeicultores de Rondônia, que demonstram resiliência frente aos desafios da agricultura. Isso se deve, em grande parte, à experiência acumulada após migrarem para o estado, à adaptação às condições locais e à abertura para adoção de novas tecnologias. Essas inovações têm contribuído para ganhos de produtividade e redução da área plantada nas últimas décadas.

“Como são cultivados em pequenas propriedades familiares, muitos dos manejos dos robustas amazônicos - como a colheita - são realizados manualmente, o que contribui para a redução das emissões de GEE relacionadas ao uso de combustíveis fósseis”, pontua o líder do projeto.

 

Foto: Marcos Oliveira

 

Agricultura familiar

O destaque da cafeicultura de Rondônia no cenário nacional vem se expandindo. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Rondônia foi responsável por 87% da produção no bioma Amazônia na safra de 2024, lançando-a à quinta maior produção total do País e à segunda maior produção da espécie Coffea canephora.

O sistema de cultivo do robusta amazônico nas Matas de Rondônia envolve cerca de 17 mil produtores. Em sua maioria, são agricultores familiares tendo por foco a produção sustentável. Dos 37 mil imóveis rurais registrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR) na região, menos de nove mil produzem café — e 95% dessas pequenas propriedades são familiares, com média de 3,5 hectares cultivados com café.

O uso e cobertura da região, com foco na cafeicultura, foi realizado no âmbito do mesmo projeto da Embrapa, em 2024. Leia mais aqui.

Conheça os detalhes do estudo clicando aqui.

 

Foto: Enrique Alves

 
 

Alan Rodrigues dos Santos (MTb 2.625/CE)
Embrapa Territorial

Contatos para a imprensa

Telefone: (19) 3211-6214

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