
A presidente Silvia Massruhá, da Embrapa, e o ministro Mauro Vieira, das Relações Exteriores, assinaram no dia 22 de maio acordo de cooperação técnica estabelecendo o planejamento e a execução de atividades voltadas ao desenvolvimento agrícola do continente africano, na esfera de competência da empresa de pesquisa brasileira.
O documento regulamenta, ainda, a utilização, pela Embrapa, da logística e infraestrutura do Escritório de Cooperação do MRE em Adis Abeba, Etiópia, e se abriga nos acordos de cooperação técnica entre o Brasil e aquele país, e entre o Governo brasileiro e a União Africana. A assinatura ocorreu durante a sessão de encerramento do II Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural, no Palácio do Itamaraty, em Brasília (DF). O Escritório coordenará as atividades de cooperação técnica.
“Estamos indicando um pesquisador para representar a Empresa na estrutura do MRE. Ele fará um diagnóstico mais detalhado das demandas da África. Também no âmbito do acordo, trabalharemos no sentido de um programa de intercâmbio de pesquisadores africanos, de modo que eles possam receber treinamento em diferentes unidades de pesquisa da Empresa, a partir das prioridades que forem definidas. O diagnóstico e as ações de intercâmbio orientarão missões de pesquisadores da Embrapa na África, visando a um programa sustentável e de Estado”, afirmou Silvia Massruhá.
"O treinamento dos cientistas africanos em áreas de interesse e o trabalho conjunto com os pesquisadores da Embrapa integrantes das missões criarão as condições para a continuidade da aplicação dos conhecimentos adquiridos e das tecnologias transferidas, com autonomia, pelos países daquele continente", completou a presidente.
O representante da Embrapa no escritório do MRE, escolhido por meio de processo de seleção interna, é o pesquisador Jose Ednilson Miranda (breve currículo abaixo), da Embrapa Algodão, anunciado pelo ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro.
“A Embrapa, que se tornou a empresa de pesquisa agropecuária para o mundo tropical mais eficiente e mais reconhecida, é o sonho de consumo de toda a África. O pesquisador Jose Ednilson Miranda tem a missão de restabelecer a presença oficial da Empresa naquele continente”, disse o ministro. Fávaro também mencionou o programa de intercâmbio que contemplará de imediato a vinda de 30 pesquisadores africanos para as unidades da Embrapa e exaltou as potencialidades dos países da África.
Como sugestão aos representantes dos países africanos presentes à cerimônia, indicou como tecnologia o que considera "um dos trabalhos mais relevantes desenvolvidos pela Embrapa" - o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc). “Certamente foi o Zarc um dos trabalhos que fizeram toda a fundamentação da produção brasileira. É importante que a ciência faça o diagnóstico completo e direcione o que pode ser produzido em cada região. Isso facilita inclusive políticas públicas que devem ser implementadas”. A segunda sugestão do ministro refere-se à plataforma digital de cursos à distância - a e-Campo.
“Podemos dizer que a Embrapa volta ao continente africano por desejo do presidente Lula e vamos trabalhar em cooperação para que os países africanos possam alcançar ainda mais prosperidade”, concluiu Carlos Fávaro.
A presença de um pesquisador da Embrapa na Etiópia, como integrante do esforço de cooperação técnica a ser implementada pelo Governo brasileiro junto à União Africana, abre para a empresa de pesquisa uma nova oportunidade de consolidar os laços que historicamente a une à Africa.
A Embrapa chegou a ter, entre fim de 2006 e 2016, uma representação em Acra, Gana, com atuação regional para países africanos. Mesmo antes - e até o presente -, a Empresa coordenou, sempre em parceria com a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores (MRE), projetos de cooperação técnica e científica, dirigidos ao desenvolvimento da agricultura de países do continente (histórico mais abaixo).
A nova representação, agora dentro da embaixada no Brasil na Etiópia, anunciada primeiramente durante a 37ª Cúpula da União Africana, em fevereiro de 2024 (veja quadro abaixo), reforça os trabalhos com foco na cooperação técnica em áreas de agricultura, pecuária e floresta.
Melhoramento genético e práticas agrícolas voltadas à produção de grãos, hortaliças, frutas, fibras e pastagens; manejo de pragas; bovinocultura e avicultura; organização de cadeias produtivas; fertilização e correção de solos ácidos; recuperação de áreas degradadas, manejo florestal; biotecnologia; agroindústria; zoneamento de riscos climáticos; agricultura digital, regenerativa e de baixo carbono; e eficiência e resiliência dos sistemas produtivos agropecuários, para fomentar o setor agrícola e a segurança alimentar e nutricional e incentivar a agricultura empresarial e de base familiar, estão entre os conhecimentos e tecnologias gerados pela empresa brasileira a serem compartilhados com países africanos.
No entendimento da Embrapa, sua presença na África representa mais que uma colaboração técnica. Ela visa formar parceiros comerciais robustos na produção de alimentos de modo a atender o próprio continente e, futuramente, para colaborar na segurança alimentar da população mundial.
Para a presidente Silvia Massruhá, da Embrapa, a cooperação com a África requer mais do que transferência de tecnologia. "Exige uma colaboração técnica ampla entre países. É fundamental que os países parceiros tenham estratégias próprias de pesquisa, capacitação e políticas públicas, a fim de garantir a continuidade das ações iniciadas com apoio brasileiro”.
De acordo com o chefe da Assessoria de Relações Internacionais (Arin) da Embrapa, Marcelo Morandi, a representação da Embrapa na Etiópia é parte da agenda de cooperação em países em desenvolvimento, iniciativa do Governo brasileiro em ações de fortalecimento institucional e transferência de tecnologia. Além da Embrapa, a estrutura deve contar com outras instituições, a exemplo da Fiocruz.
"A Embrapa se coloca como uma marca global que representa a evolução da agricultura tropical baseada em ciência. A presença do Brasil, por meio da Embrapa na África, reforça a importância de posicionar o sul global como importante provedor de tecnologia e conhecimento para promover a agricultura sustentável que é parte essencial para a solução da crise climática e da segurança alimentar. É uma relação ganha-ganha. A abertura de mercados e a ampliação da produção de alimentos e bioenergia no cinturão tropical beneficia a todo o planeta", ressalta Marcelo Morandi.
Confira, nesta matéria, fala do ministro Mauro Vieira, ressaltando também a importância do Sul Global e mostrando números da cooperação com a África, um continente que, segundo ele, "cresce, inova e se transforma".
| Escritório de cooperação No seu discurso durante a abertura da 37ª Cúpula da União Africana, realizada em fevereiro do ano passado, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, reforçou a intenção do Brasil de auxiliar o desenvolvimento do continente africano, compartilhando políticas públicas de sucesso em diversas áreas. Anunciou, então, a criação de um posto avançado de cooperação junto à União Africana em setores como a pesquisa agrícola, saúde, educação, meio ambiente e ciência e tecnologia. A representação diplomática em Adis Abeba contaria com funcionários de órgãos governamentais, a exemplo da Agência Brasileira de Cooperação, Embrapa e Fiocruz. O “Escritório de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores em Adis Abeba”, na Etiópia, foi oficializado por meio de portaria do Ministério das Relações Exteriores (MRE), publicada no Diário Oficial da União de 17 de abril de 2025. |
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Pesquisador selecionado
Ele é pesquisador da Embrapa desde julho de 2002, hoje lotado na Embrapa Algodão. Atua em manejo integrado de pragas do algodoeiro, controle biológico, controle químico e plantas inseticidas. Tem ampla experiência em orientação acadêmica e como articulador e membro técnico de projetos de cooperação Sul-Sul no continente africano, em projetos da ABC/MRE e Embrapa. Miranda concluiu a graduação em Engenharia Agronômica na Universidade Estadual de Londrina. Tem mestrado em Zootecnia e doutorado com concentração em Entomologia Agrícola , ambas as pós-graduações pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. |
Um continente que cresce“Este segundo Diálogo Brasil-África se consagrou como espaço de convergência de interesses e de agendas comuns. Saúdo, nesse sentido, a assinatura de seis memorandos de entendimento e três protocolos sanitários que reforçam a cooperação entre o Brasil e os países africanos”, disse, no encerramento do evento, o embaixador Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores. O chanceler destacou o acordo assinado com a Embrapa, ressaltando a expectativa do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em impulsionar novas iniciativas entre o Brasil e países e organizações da África. “Um continente que cresce, inova e se transforma”, enfatizou, chamando a atenção dos setores privados brasileiros para as oportunidades oferecidas pela África. Citou exemplos de acordos e projetos, entre eles o Cotton 4 e o Cotton Victória, que, segundo ele, transformaram o setor do algodão na África. Ambos os projetos são frutos de compensações financeiras obtidas a partir de uma decisão favorável ao Brasil em contencioso na Organização Mundial do Comércio (OMC). “Esses exemplos ilustram a importância do multilateralismo e o potencial do Sul Global para beneficiar-se de um sistema de governança internacional que reflita as necessidades e as aspirações dos países em desenvolvimento”, concluiu Vieira. Números citados pelo ministro Mauro Vieira, do MRE- o Brasil mantém 42 acordos bilaterais de cooperação técnica com a África, incluindo com a União Africana; - esses acordos amparam 120 projetos em execução; - as relações comerciais entre o Brasil e os países africanos cresceram: em 2024, o comércio bilateral superou 24 bilhões de dólares, um aumento de 19% em relação ao ano anterior; - o continente africano conta com a população mais jovem do mundo – mais de 1 bilhão e 300 milhões de pessoas distribuídas em 54 países; - seu PIB já ultrapassa 3 trilhões de dólares, com crescimento médio anual de 3,5%. |
Marita Cardillo (2264 DF)
Assessoria de Comunicação (Ascom)
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