Imagine-se em uma subestação de energia, onde precisa executar uma atividade de manutenção em ambiente que não permite margem de erro. Além da capacitação técnica, um trabalho como esse exige amplo conhecimento, aplicação das normas de segurança e muito, muito treinamento.
Uma engenheira de Segurança do Trabalho da Itaipu Binacional teve uma ideia que reduz praticamente a zero o risco de acidentes na etapa de preparação de um profissional para esta tarefa: desenvolver um ambiente virtual, que lembra videogames de última geração, no qual seja possível demonstrar a perícia para a ação de forma realista e segura.
O Simulador de Risco Elétrico (SRE) idealizado por Thiciane Peres, da Divisão de engenharia de Segurança do Trabalho da Itaipu, venceu um prêmio interno de inovação promovido pela empresa, foi desenvolvido com o apoio de uma equipe da usina e do Itaipu Parquetec, já está sendo utilizado na prática e acaba de tornar-se oficialmente um ativo registrado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). A conquista reconhece a inovação e o pioneirismo de uma solução criada para aprimorar a segurança e a capacitação dos trabalhadores que atuam em atividades de alto risco elétrico.
O registro foi feito com a ajuda do Itaipu Parquetec. Foi o oitavo obtido pela Itaipu, o primeiro após o lançamento do Programa de Propriedade Intelectual, realizado no dia 4 de junho, como resultado de uma parceria entre a Binacional, o Parquetec e o Inpi, com o objetivo de promover ações de conscientização e disseminação da cultura da propriedade intelectual na Itaipu e suas fundações, instituições de pesquisa e empresas parceiras, incluindo startups e incubadas.
Em 2024, a Binacional foi reconhecida como uma das 20 empresas mais inovadoras do Brasil pela equipe da MIT Technology Review Brasil, que concedeu à Itaipu o prêmio Innovative Workplaces. Os programas de computador “made in Itaipu” simbolizam o potencial inventivo dos empregados da usina e pavimentam um caminho promissor, que gradativamente tende a conduzir a mais registros e a reforçar a percepção da Itaipu como uma empresa inovadora.
Para estimular ainda mais a criatividade e incentivar a melhoria de processos e a cultura da inovação na empresa, algumas ações foram colocadas em prática nos últimos dois anos.
Entre elas, a criação no ano passado do Prêmio Inowatt, que em sua primeira edição recebeu 128 ideias – um recorde absoluto em iniciativas do gênero na empresa; a promoção de eventos sobre propriedade intelectual; a retomada e reestruturação da Universidade Corporativa da Itaipu; a criação de um repositório para produções acadêmicas dos(as) empregados(as); a difusão de ferramentas internas capazes de automatizar tarefas do dia a dia e estimular a autonomia, o protagonismo dos usuários e a inovação; e o incentivo a registros no Inpi, o que passou a acontecer de forma efetiva a partir de abril de 2024, quando três ideias surgidas há alguns anos finalmente foram oficialmente registradas, abrindo caminho para as outras cinco que vieram depois. O SRE é apenas a última dessa lista, que não deve parar de crescer.
Realista e seguro
O Simulador de Risco Elétrico (SRE) é um software que, com o uso de alguns acessórios, como óculos de realidade virtual e sensores manuais, permite o treinamento de forma prática e segura emulando ambientes onde o risco é elevado e os métodos convencionais não são aplicáveis.
Após a validação do conceito, um protótipo foi desenvolvido entre janeiro e junho de 2021, em parceria com o Parque Tecnológico Itaipu (hoje Parquetec), simulando etapas críticas do procedimento de desenergização elétrica, conforme a Norma Regulamentadora 10 (NR-10), que trata de Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade. A proposta inicial contemplava as etapas de impedimento de reenergização e constatação da ausência de tensão.
Com resultados positivos, o projeto foi ampliado entre 2022 e 2024, incluindo mais procedimentos, novos equipamentos, ferramentas e cenários operacionais. Em setembro de 2024, o SRE começou a ser utilizado em treinamentos, oferecendo uma experiência imersiva com realidade virtual, sons, sinais visuais e a possibilidade de simular erros, proporcionando aprendizado seguro e realista. “Com o SRE é possível aprimorar o conhecimento sobre os procedimentos de trabalho, análise de riscos, planejamento de atividades e o uso correto de EPIs”, ressalta Thiciane.
Além de contribuir diretamente para a segurança e capacitação dos(as) empregados(as), o SRE se tornou referência fora da Itaipu, sendo apresentado em eventos técnicos do setor elétrico e citado no livro Energia em Transformação – a contribuição das mulheres para a transição energética, do qual a engenheira é coautora.
Atualmente, os principais beneficiados pelo SRE são as equipes das divisões de Manutenção de Equipamentos de Transmissão e de Operação de Usina e Subestações da Itaipu, que rotineiramente têm atividades na Subestação da Margem Direita (SEMD) da usina, um dos espaços mais desafiadores da empresa, que exige alto nível de especialização e rigor nos procedimentos de segurança.
Outras possibilidades de uso, no entanto, estão sendo estudadas. “Estamos avaliando a ampliação do SRE, para torná-lo útil para mais pessoas, com a possibilidade de uso, por exemplo, como treinamento complementar e prático nos cursos bienais de NR-10”, explica Thiciane.
Do surgimento da ideia até o desenvolvimento do programa e a sua utilização prática, em 2024, outras pessoas juntaram-se à engenheira para viabilizar o projeto. Além de Thiciane, integraram a equipe Emerson Felichaki, Camila Muriana, Marcos Trigueiros, Mário Augusto Caetanos dos Santos e Sérgio Oliveira, da Itaipu; e Lyncon Baez, do Itaipu Parquetec.
Os nomes de todos eles constam no registro do Inpi. “O sentimento agora é de dever cumprido e de felicidade por refletir o empenho da equipe que trabalhou com dedicação, comprometimento e profissionalismo”, diz Thiciane. Para ela, o registro no Inpi é mais um marco que reforça o potencial de transformação e inovação existente na empresa. “Que esse exemplo inspire outros colegas a propor e transformar ideias em soluções que fazem a diferença para a Itaipu e a sociedade”, conclui.
Para o diretor administrativo da Itaipu, Iggor Rocha, o sucesso do SRE merece ser celebrado. “É sempre uma excelente notícia receber esses registros, ainda mais um como esse, com o ciclo completo: ideia apresentada em um prêmio interno, desenvolvimento, protocolo e deferimento”, ressalta. “É o exemplo perfeito do que queremos replicar e incentivar.”
Registros
Confira, abaixo, a lista dos oito programas criados na Itaipu e registrados no Inpi, em parceria com o Itaipu Parquetec, da expedição mais recente à mais antiga:
Nome do programa | Criação | Publicação | Expedição do registro |
Simulador de Risco Elétrico (SRE) | 11/01/2021 | 15/04/2024 | 10/06/2025 |
Sistema de Registro e Documentação de Barragens (SRDB) | 28/04/2022 | 18/12/2024 | 01/04/2025 |
Sistema de Monitoramento e Alertas (SMA) | 24/07/2023 | 04/12/2024 | 11/03/2025 |
Software Avançado de Controle para Bancadas de Ensaios de Eletrolisadores Alcalinos | 10/01/2023 | 07/05/2024 | 25/02/2025 |
Módulos de Predição Estatística Instrumentação de Barragens (MEPMEB) | 01/03/2024 | 20/05/2024 | 03/12/2024 |
Concentrador de Registro de Fasores (CRF) | 01/05/2012 | 28/06/2023 | 16/04/2024 |
Unidade de Monitoramento Remota – Aquisição e Processamento de Dados (UMR-SW) | 01/05/2012 | 28/06/2023 | 16/04/2024 |
Software de Análise de Registros e Fasores (SARF) | 13/02/2015 | 13/02/2019 | 16/04/2024 |