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Uma bactéria isolada de solos áridos do Ceará acaba de virar o ingrediente principal de uma nova tecnologia contra a seca que promete melhorar o desempenho das lavouras brasileiras. Batizado de Hydratus, o inoculante desenvolvido pela Embrapa Milho e Sorgo (MG) em parceria com a empresa Bioma já tem registro no Ministério da Agricultura e Pecuária para uso na cultura da soja e vem sendo testado para aplicação em outras culturas.
Produzido com a bactéria Bacillus subtilis, o Hydratus foi formulado para proteger as plantas em condições de escassez hídrica e ainda estimular seu crescimento. Ele também é capaz de melhorar o desempenho de lavouras irrigadas. Estudos em áreas comerciais mostraram aumento de até 7,7 sacas por hectare na produção de milho e 4,8 sacas por hectare em lavouras de soja tratadas com o bioproduto.
O diferencial do Hydratus está na seleção e concentração elevada de células de Bacillus, aliada a uma formulação inovadora com agentes protetores que favorecem a sobrevivência da bactéria no solo e prolongam a meia-vida do produto na prateleira.
Lançamento no Congresso da AndavO lançamento do Hydratus acontecerá no dia 5 de agosto durante o Congresso da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav) Andav, no Transamérica ExpoCenter, em São Paulo. O evento acontece de 5 a 7 de agosto e reunirá especialistas e líderes do setor de agronegócios. Transamérica ExpoCenter: Av. Dr. Mário Villas Boas Rodrigues, 387 – Santo Amaro, São Paulo (SP). |
O Hydratus é resultado de anos de pesquisa e desenvolvimento dentro do projeto “Seleção e caracterização de microrganismos para mitigação dos efeitos da seca e promoção do crescimento de plantas”, coordenado pela pesquisadora Eliane Aparecida Gomes junto com a equipe da Embrapa (veja quadro abaixo).
Nos testes em laboratório, o microrganismo mostrou potencial de produção de fitohormônios, que alteram a morfologia e aumentam o tamanho das raízes, mecanismos fundamentais para adaptação à seca. É por esse motivo que as plantas acabam crescendo mais e apresentando desenvolvimento mais robusto com a aplicação do produto.
Testes de campo, em diferentes condições de solo e clima, mostraram que a inoculação da estirpe B. subtilis 1A11 incrementou a produção de soja e milho em 4,8 e 7,7 sacas por hectare, respectivamente, na média de 30 áreas comerciais. Esses trabalhos foram conduzidos pela equipe de desenvolvimento de produtos da empresa Bioma, sob coordenação de seu diretor de pesquisa, Artur Soares, e pelo pesquisador Geraldo Magela de Almeida Cançado da Embrapa Agricultura Digital (SP).
O lançamento do Hydratus ocorre em um momento importante. O cenário atual de mudanças climáticas tem afetado a intensidade e regularidade das chuvas, levando a flutuações na temperatura e aumentando a incidência de secas, fatores que interferem na produtividade agrícola. “A seca afeta a disponibilidade e o transporte de nutrientes do solo para as raízes, induz o aparecimento de radicais livres que, em altas concentrações, causam danos a várias estruturas celulares, além inibir o crescimento das plantas”, conta a cientista da Embrapa.
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“Essa tecnologia chega como um grande suporte para os agricultores que lidam com os desafios crescentes das mudanças climáticas”, afirma o chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia em exercício da Embrapa Milho e Sorgo, Alexandre Ferreira da Silva. “Com um olhar atento ao estresse hídrico, uma realidade que impacta cada vez mais as lavouras, essa inovação promete otimizar a produtividade e tornar a agricultura ainda mais sustentável. É uma contribuição que vai além das fazendas, conectando-se diretamente às discussões mundiais sobre como tornar nossa produção agrícola mais resiliente frente ao cenário de mudanças climáticas e garantir a alimentação de todos”, frisa o gestor da Embrapa.
“Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que a média anual de chuvas aumentou em algumas partes do País, enquanto em outras regiões estão caminhando na direção oposta. Nesse contexto, o Hydratus reduz os efeitos negativos da escassez de água sobre as plantas, ou seja, mantém a produtividade mesmo em condições ambientais desfavoráveis, quando não chove ou quando chove além do esperado”, frisa o diretor de Pesquisa da Bioma, Artur Soares, que também chama a atenção para a sustentabilidade promovida pelo bioinsumo: "o Hydratus aumenta a eficácia do uso da água na propriedade".
Bioinsumos – O protagonismo do Brasil na COP 30O Brasil está consolidado entre os líderes mundiais em produção de bioinsumos agrícolas, estratégicos para o agronegócio. A Embrapa desenvolve e promove pesquisas e transferência de tecnologias e conhecimentos que contribuem para adaptar as boas práticas agropecuárias, aumentando a sustentabilidade e garantindo a segurança alimentar e nutricional. Essas tecnologias serão destacadas e apresentadas a outros países pela Embrapa durante os eventos da Jornada Pelo Clima na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá de 10 a 21 de novembro, em Belém (PA). O Programa Nacional de Bioinsumos, bem como o Conselho Estratégico do Programa Nacional de Bioinsumos, foram instituídos pelo Decreto No 10.375, de 26 de maio de 2020. O objetivo é, sobretudo, reduzir a dependência de insumos importados e alavancar, de forma sustentável, o uso do potencial da biodiversidade do Brasil. |
A equipe de desenvolvimento do Hydratus é composta pelos pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo, Eliane Aparecida Gomes, coordenadora, Christiane Abreu de Oliveira Paiva, Flávia Cristina dos Santos, Ivanildo Evódio Marriel, Maycon Campos Oliveira, Paulo César Magalhães, Sylvia Morais de Sousa e Ubiraci G. P. Lana, e pelo pesquisador da Embrapa Agricultura Digital Geraldo Cançado.
A bactéria contra a seca que veio do mandacaru
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Sandra Brito (MTb 06.230/MG)
Embrapa Milho e Sorgo
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