O censo da população em situação de rua de Foz do Iguaçu, divulgado nesta quarta-feira (17), não apenas dimensionou em 589 pessoas o número de moradores nas ruas da cidade. O levantamento mostrou também a complexidade de realizar, pela primeira vez no interior do Brasil, uma pesquisa dessa natureza liderada pelo Executivo Municipal.
O processo, realizado entre 19 e 31 de agosto, exigiu um esquema logístico considerado inédito. “Não bastava ter o mapeamento. Precisamos voltar até oito vezes a um mesmo ponto, em diferentes horários, para garantir que ninguém ficasse de fora”, afirmou o secretário de Assistência Social, Alex Thomazi.
Desafios em campo
Durante as duas semanas de trabalho, as equipes encontraram situações inesperadas. Uma delas foi a necessidade de incluir locais fora do mapa inicial, como comunidades terapêuticas. “O desafio foi respeitar a dinâmica de cada grupo social. Nem sempre a abordagem é simples”, relatou André dos Santos, diretor de Vigilância Socioassistencial e coordenador do censo.
As entrevistas foram conduzidas por 52 pessoas, entre servidores, voluntários e assessores, divididos em turnos. Tablets foram usados para registro digital das respostas, em um questionário elaborado com apoio da Unila (Universidade Federal da Integração Latino-Americana).
Força-tarefa interinstitucional
O censo foi possível graças à articulação de diferentes órgãos. A Secretaria Municipal de Educação disponibilizou equipamentos eletrônicos, a Secretaria de Tecnologia desenvolveu o aplicativo ConectaFoz e a Vigilância Socioassistencial liderou a logística. O Ministério Público do Paraná acompanhou a definição do questionário e universidades deram suporte metodológico e analítico.
Segundo Thomazi, a experiência consolidou uma rede de cooperação. “Esse trabalho só foi possível porque todos se engajaram. A integração entre governo, sociedade civil e academia é um legado que permanece”, disse.
Impacto no planejamento
Para além dos números, o censo oferece ao município um mapa detalhado para orientar políticas públicas. A gestão já anunciou planos de curto prazo, como a criação de um aplicativo para a equipe de abordagem social e a implementação do Centro Integrado de Atendimento à População em Situação de Rua.
O secretário destaca que a comparação com dados anteriores mostra resultados já perceptíveis. “Tínhamos uma fotografia do CadÚnico de 1.004 pessoas em situação de rua no início deste ano. Hoje temos 589 após os dados preliminares do censo. Isso significa que as ações executadas nos primeiros meses já surtiram efeito”, disse.
Ele afirma que o estudo será a base para articulações futuras. “Agora precisamos pensar junto com o CIAMP e com outras secretarias, com apoio do prefeito General Silva e Luna, para planejar políticas de forma integrada. Esse censo foi um passo importante para que possamos agir com mais assertividade, dignidade e responsabilidade”, completou.
Reconhecimento
O Tribunal de Contas do Paraná classificou o levantamento como referência estadual em boas práticas. A metodologia será replicada em 50 municípios, que concentram 90% da população de rua do estado, e será apresentada no Congresso Brasileiro do SUAS.
Para Thomazi, o principal ganho é a mudança de paradigma. “Não se trata apenas de números. Cada dado colhido é uma oportunidade de desenhar políticas que devolvam dignidade às pessoas em maior vulnerabilidade”, concluiu.