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Estudo realizado pela Embrapa mostra um panorama positivo e bastante promissor da cafeicultura das Matas de Rondônia, região do estado que se destacou na última década na produção dos robustas amazônicos, espécie desenvolvida para a região que também recebeu manejo e insumos próprios. O raio-x da principal produtora do estado mostrou que lá o café se concentra em pequenas propriedades, com grau de tecnificação elevado, alta produtividade, sustentabilidade ambiental regional e boa margem de lucro.
O Perfil socioeconômico e produtivo dos cafeicultores da região das Matas de Rondônia abrangeu os 15 municípios formadores da região das Matas de Rondônia, Responsáveis por 75% da produção rondoniense de café robusta, esses municípios obtiveram, em 2021, o registro de Indicação Geográfica do tipo denominação de origem para o grão produzido na região. No estado como um todo, o trabalho acordado um dado impressionante: a área de cafés em produção encolheu de 245 mil hectares, em 2001, para apenas 60,6 mil hectares, em 2023. No entanto, a produtividade saltou de 7,8 para 50,2 sacas por hectare no mesmo período, um efeito chamado de economia-terra.
Baseando-se em um questionário, aplicado com a ajuda do Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa do estado ( Sebrae-RO ), além de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE ), da Companhia Nacional de Abastecimento ( Conab ) e informações coletadas por satélite, o estudo foi realizado no âmbito do projeto CarbCafé, coordenado pela Embrapa Territorial (SP).
“Um dos registros mais positivos foi a boa rentabilidade do Robusta Amazônico”, relata Calixto Rosa Neto , analista da Embrapa Rondônia que assina o estudo. “Uma saca de 60kg tem um custo de R$ 618,00 reais e é vendida por cerca de R$ 1.300,00, uma margem que tem ajudado a melhorar a vida de muitos produtores”, frisa. Importante efeito disso é a fixação dos jovens no campo, o que foi comprovado pela queda da idade média do cafeicultor que, em 15 anos, passou de 53 para 47 anos.
O impacto social é mais impressionante quando se constata que a imensa maioria dos cafeicultores da região possui pequenas propriedades, principalmente familiares. São fazendas de até 28,6 hectares, em média, e com cafezais que ocupam cerca de 3,4 hectares. “São mais de sete mil produtores no estado, o que ajuda a promover um amplo desenvolvimento social”, declara Rosa Neto.
"Um ponto positivo encontrado foi o tempo de esperança para comercializar a safra. A grande maioria espera por melhores preços. Isso reflete uma certa maturidade econômica dos cafeicultores. Sinal que não estão individualizados ou em desespero econômico", explica o pesquisador Enrique Alves , que também assina o documento.
A atividade tem forte participação no PIB agrícola dos 15 municípios. O estudo retrata que a participação do Valor Bruto da Produção (VBP) do café em relação ao VBP agrícola total da região, verifica-se que ela é de 63,6%, na média, evidenciando a importância da cafeicultura no contexto socioeconômico desses municípios
Bom nível de tecnologia nos cafezaisCom mais dinheiro é possível reinvestir em tecnologia, que por sua vez aumenta a produtividade e a sustentabilidade, impulsionando o faturamento. Esse ciclo virtuoso também foi observado pelos pesquisadores. "Encontramos mais de 200 máquinas colhedoras no campo. A demanda é tanta que descobriu uma empresa de aluguel de colhedoras de café semi-mecanizadas, algo que não existia na região", conta Neto apontando esse como um dos sinais de que uma cadeia produtiva está crescendo e se consolidando.
Além da mecanização da colheita, o levantamento encontrou outras práticas importantes que apresentam bons níveis tecnológicos no trabalho. Manejos específicos de solos e plantas, a prática de fertirrigação (adubos aplicados à água), a adubação correta e as podas realizadas nos períodos recomendados são indicadores de uso de conhecimentos, ferramentas e insumos atualizados. A inovação tecnológica começou há mais de dez anos com o plantio de cafeeiros clonais desenvolvidos especialmente para a região, híbridos de robusta e conilon.
Um salto impressionante oferecido aconteceu em um período menor que dez anos: o da conectividade. Em 2017, o Censo Agropecuário do IBGE registrou apenas 9,2% de propriedades conectadas nos 15 municípios que formam a região das Matas de Rondônia. Apenas sete anos depois, 97,7% dos produtores entrevistados para o estudo tiveram acesso à internet. A tecnologia é usada principalmente para a aquisição de insumos, acompanhada de comunicação e de comercialização da produção. "Esse é um dos principais desafios das residências rurais. A falta de conectividade afetada à administração da lavoura e é um dos motivos que provocam a evasão dos jovens do campo", revela Neto, "por isso, esse alto índice de acesso à internet é uma excelente notícia".
O trabalho também lançou luz sobre problemas importantes que precisarão ser contornados como a deficiência de mão-de-obra, por exemplo. Neto explica que os cafezais exigem grande eficiência dos trabalhadores nos períodos de colheita, que duram cerca de três meses. "Está cada vez mais difícil encontrar trabalhadores temporários que aceitem atuar somente nesse período, por melhor que seja a remunerações. A mecanização pode ajudar a resolver parte do problema, ela substitui até cerca de 50% da mão-de-obra, mas ainda há um específico específico a ser suprido", prevê o analista da Embrapa ao informar que, desde 2011, uma cafeicultura da região já perdeu cerca de 20 mil trabalhadores.
Há de se desenvolver tecnologias próprias de colheita para os Robustas Amazônicos. Com arquitetura diferente das plantas arábicas, para as quais há colheitadeiras eficientes, os robustos ainda são incomuns de máquinas específicas para essa atividade. As plantas arábicas possuem um único caule, enquanto as robustas possuem vários caules, um dos motivos que impedem que as duas espécies compartilhem o mesmo instrumento de colheita.
O controle financeiro é outro item de melhoria entre os produtores, 61% deles declararam não fazer registro algum. Apenas 6,6% usam planilha eletrônica para organizar as finanças e 35% anotam receitas e despesas em cadernos.
O custo médio de produção informado pelos produtores foi de R$ 17,8 mil por hectare. No entanto, o cálculo teve de ser refeito uma vez que a maioria não inclui esses montantes valores como o da mão-de-obra familiar, da depreciação de equipamentos e do custo da terra, por exemplo. "É comum, por exemplo, fazer a contratação de empregado com almoço incluído. No entanto, o custo dos alimentos e a hora da empregada não são considerados", conta Neto.
Como toda atividade agrícola, a cafeicultura de Rondônia já está sendo obrigada a se adaptar às mudanças climáticas. Os produtores estão registrando períodos bem maiores de seca. "Há um pouco de tempo, era preciso irrigar por cerca de três meses. Agora, com maiores temperaturas e períodos mais extensos de estimativa, os cafeicultores têm de estender a privacidade por até cinco meses", revela o analista. Isso significa aumento no custo de produção, especialmente em energia elétrica, e, o mais preocupante, necessidade de maior fornecimento de água. "Recentemente, observamos produtores do noroeste do Mato Grosso que não irrigaram, simplesmente, porque não encontraram água. Os rios secaram", alerta Calixto Neto. Segundo ele, técnicas avançadas de eficiência hídrica serão cada vez mais necessárias.
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Esse e outros trabalhos do âmbito do projeto CarbCafé, liderado pelo pesquisador Carlos Ronquim , podem ser acessados neste endereço na página da Embrapa .
Fotos da matéria: Enrique Alves
Fabio Reynol - Assessoria de Comunicação (Ascom) (MTb 30.269/SP)
Embrapa Rondônia
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