
Especialistas afirmam que novas doenças certamente irão surgir no futuro. Por isso, é essencial agir desde já para impedir que elas evoluam e se transformem em novas pandemias. A memória recente nos leva diretamente à Covid-19. Mas existe outra batalha, menos visível e muito mais longa, que vem sendo travada há décadas — e que guarda lições vitais para o futuro da saúde pública: a luta contra a paralisia infantil.
A poliomielite, doença evitável por vacinação que pode causar paralisia irreversível e até a morte, foi reduzida em mais de 99,9% no mundo desde 1988, graças à mobilização global sem precedentes. Governos, organizações internacionais, profissionais de saúde da linha de frente e voluntários — liderados em parte pelo Rotary International, bem como seus parceiros na Iniciativa Global de Erradicação da Pólio (GPEI, na sigla em inglês) - trabalharam juntos para cumprir a promessa de um mundo livre da pólio.
Esta é, sem exagero, uma das maiores campanhas de saúde pública da história e a pólio se tornará a segunda doença humana da história a ser erradicada (a primeira foi a varíola).
Hoje, só dois países (Afeganistão e Paquistão) ainda reportam casos de pólio selvagem. Mas, como vimos recentemente com a reintrodução do sarampo no Brasil e com a detecção do vírus da pólio em águas residuais em Nova York e algumas outras cidades da Europa, doenças imunopreveníveis como o sarampo e a pólio, em qualquer lugar, são uma ameaça em todos os lugares, porque não conhecem fronteiras. E embora o Brasil tenha sido certificado como livre da pólio em 1994 - como parte da Região das Américas da Organização Mundial da Saúde -, se baixarmos a guarda a doença também pode voltar ao nosso país.
E é aí que está a conexão com o futuro: o combate à pólio é, na prática, um “ensaio geral” para qualquer nova crise sanitária que possamos enfrentar.
Primeira lição: cooperação internacional funciona
Erradicar uma doença exige que países deixem de lado diferenças políticas e geográficas para trabalhar por um objetivo comum. GPEI é um modelo de como acordos multilaterais, logística global de vacinas e compartilhamento rápido de informações podem salvar vidas.
Segunda lição: a imunização precisa estar ao alcance de todos
A vacina contra a pólio é segura, eficaz e de baixo custo. Mas, para ser eficaz na prevenção da pólio, sua aplicação exige plena integração também à imunização de rotina, bem como campanhas consistentes em países de risco, comunicação clara - garantindo que todas as comunidades ao redor do mundo sejam alcançadas com a vacina - e combate à desinformação. Esses desafios se repetem em qualquer emergência de saúde pública.
Terceira lição: vigilância constante é essencial para resposta rápida
A rede criada para detectar o vírus da pólio no ambiente e em casos suspeitos é, em muitos países, a mesma que hoje monitora outras doenças. No Brasil, essa dinâmica é parte do Sistema Único de Saúde e serve como “alarme” para ameaças emergentes.
Quarta lição: mobilização comunitária salva vidas
Nenhuma parceria público-privada teria conseguido imunizar mais de 3 bilhões de crianças sem a participação ativa de voluntários, líderes locais, profissionais de saúde da linha de frente e organizações da sociedade civil. É essa capacidade de engajar comunidades que transforma campanhas em resultados concretos. O Rotary e seus parceiros criaram uma infraestrutura de cuidados da saúde composta por profissionais experientes, cuja utilidade vai muito além da erradicação da poliomielite.
Nesse contexto, nosso país desempenha um papel estratégico na infraestrutura de saúde: com 203 milhões de habitantes e fronteiras extensas, manter uma alta cobertura vacinal é essencial para a segurança sanitária regional e global.
É por isso que é alarmante que o Brasil - que não registra um caso de pólio selvagem desde 1989 e já vacinou mais de 20 milhões de crianças em um único dia – esteja, no momento, enfrentando uma queda preocupante na cobertura de vacinação infantil.
Esse enfraquecimento da imunização ameaça nosso progresso de décadas rumo à erradicação da pólio e nos deixa vulneráveis a doenças que julgávamos superadas.
Após a divulgação de dados alarmantes sobre a baixa cobertura vacinal no Brasil em 2023, clubes de Rotary de todo o país se uniram para lançar a campanha baseada em evidências “Informação Salva Vidas”, criada para combater equívocos sobre vacinas e incentivar a imunização.
No ano seguinte, a organização recebeu o Prêmio