Uma equipe de cientistas da Universidade Federal de Lavras ( UFLA ) e da Embrapa descobriu que os excrementos da produção comercial do Tenebrio molitor , inseto comumente utilizado na alimentação animal, suprimem dois importantes patógenos na agricultura: o fungo Fusarium oxysporum e o nematóide Meloidogyne incógnito .
Testes de laboratório avaliaram os efeitos do excremento na germinação e crescimento dos esporos de Fusarium oxysporum raça 3. Os cientistas também estudaram os efeitos na eclosão, mobilidade e mortalidade de juvenis de Meloidogyne incognita . Os resultados mostraram uma redução significativa na germinação de esporos (até 84%) e uma diminuição impressionante na eclosão de nematóides (até 97%).
Além disso, o estudo pioneiro mostrou que a incubação e incorporação da larva de Tenebrio molitor ao solo promove o crescimento e o desenvolvimento das plantas, pois aumenta a quantidade de nutrientes disponíveis. O estudo também demonstrou que o excremento não é tóxico, ou seja, não causa fitotoxicidade. Além disso, o excremento contém uma microbiota benéfica, que produz substâncias químicas essenciais ao desenvolvimento saudável das plantas. Um dos componentes encontrados no excremento é a quitina, polímero que beneficia a agricultura.
João Pedro Gondim, pesquisador da UFLA, destaca a importância do estudo. “A pesquisa demonstrou científica e tecnicamente as vantagens do uso do Tenebrio molitor , excremento, não só para biofábricas e usuários de insetos, mas também para agricultores e profissionais da agricultura. Observamos um aumento significativo na biomassa aérea e radicular das plantas e demonstramos os mecanismos que suprimem as populações desses patógenos”.
Patógenos como o fungo Fusarium oxysporum e o género de nemátodos Meloidogyne representam uma ameaça constante para os agricultores devido a perdas económicas consideráveis e desafios significativos para a segurança alimentar. Estima-se que estes patógenos causem perdas de bilhões de dólares todos os anos em todo o mundo.
No Brasil, estima-se que os nematóides causem perdas de cerca de 65 bilhões de reais por ano, principalmente devido ao intenso uso do solo e à sucessão de culturas suscetíveis a esses fitopatógenos. Assim, os resultados da pesquisa apontam para uma solução potencial eficiente e sustentável para minimizar o problema.
Testes sob condições controladas também demonstraram um efeito supressor da larva excremento na murcha de Fusarium em tomates. Observou-se uma redução significativa de 18% na severidade da doença e um surpreendente aumento no desenvolvimento das plantas: até 328%.
Além disso, foram realizados testes em condições de campo para investigar o efeito da aplicação de larvas de excrementos no solo sobre a população de nematóides e sobre a produtividade do tomate. Os resultados desses experimentos mostraram grande redução no número de nematóides (até 88%) e aumento significativo na produtividade, chegando a 163%.
A pesquisa também realizou experimentos para avaliar a contribuição dos compostos voláteis dos excrementos da larva nas atividades antifúngica e nematicida e para melhor compreensão dos mecanismos envolvidos em sua ação biológica.
“Os resultados desses experimentos forneceram insights sobre o potencial do Tenebrio molitor no controle de doenças que afetam as culturas, pois são a base para os resultados e conclusões apresentados pelo estudo”, afirma Wagner Bettiol , pesquisador da Embrapa Meio Ambiente .
Bettiol afirma que os resultados são promissores, uma vez que a larva de Tenebrio molitor pode ser uma ferramenta eficiente no controle do tomate e de outras doenças das culturas. Além disso, a abordagem representa um avanço significativo em relação à agricultura sustentável e pode desempenhar um papel importante para garantir a segurança alimentar global, segundo o pesquisador.
Este estudo tem potencial para garantir um maior retorno à produção comercial de Tenebrio molitor , pois agregará valor aos excrementos gerados na produção desta importante proteína animal, comenta o cientista. Além disso, o pesquisador relata que há perspectiva de que os produtos sejam disponibilizados caso as empresas do setor vejam potencial no mercado brasileiro.
Cristina Tordin (MTb 28.499/SP)
Embrapa Meio Ambiente
Marcos Vicente (MTb 19.027/MG)
Embrapa Meio Ambiente
perguntas da imprensa
meio-ambiente.imprensa@embrapa.br
Número de telefone: +55 19 3311 2608
Mín. 20° Máx. 30°