Enquanto o mercado financeiro e seus porta-vozes na mídia corporativa aumentam a pressão para que o governo Lula corte investimentos em áreas sociais e acabe com a vinculação do salário mínimo ao pagamento de benefícios previdenciários, o mesmo mercado segue drenando recursos do setor público. No acumulado de 12 meses até junho de 2024, União, estados, municípios e estatais desembolsaram nada menos do que R$ 835,7 bilhões para pagamento de juros da dívida pública. O valor, que representa mais um recorde, corresponde a 7,48% do PIB (Produto Interno Bruto).
Até junho do ano passado, o valor pago já havia chegado a impressionantes R$ 638,1 bilhões (6,06% do PIB). Os juros da dívida custaram R$ 94,9 bilhões somente no mês de junho de 2024, ante R$ 40,7 bilhões no mesmo mês em 2023, cifra mais do que o dobro de um valor já exorbitante.
Resultado direto dos juros pelo Banco Central, fixados em 10,50%, os bilhões desperdiçados pelo setor público são recursos que deixam de ir para a educação, a saúde e para áreas estratégicas como a infraestrutura. Por causa do impacto fiscal que a taxa básica de juros causa, os prejuízos para o crescimento do país são incalculáveis.
“As altas taxas de juros determinadas pelo Banco Central são um aspirador de dinheiro público do Estado pelo mercado”, protestou o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), em suas redes sociais. “O projeto do governo Lula é baseado no Estado como indutor do desenvolvimento com investimentos na infraestrutura e nos programas sociais. Estão inviabilizando o Brasil”, denunciou Guimarães.
No mês passado, Guimarães já havia feito um alerta sobre o modo como a taxa de juros vem sabotando o projeto de reconstrução nacional do presidente Lula. “A taxa de juros adotada pelo Banco Central inviabiliza qualquer projeto de recuperação e crescimento da economia“, observou o líder, em artigo.
“A expansão do crédito, medida fundamental para os investimentos e para a reconstrução do mercado interno de consumo, se tornou inexequível. A indústria e o comércio, setores mais sensíveis da economia, sentem as consequências da política monetária do Banco Central. Outros setores que também dependem do crédito, não estão suportando a asfixia da economia pela escorchante taxa de juros”, advertiu. De lá para cá, a situação só piorou.
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Também por suas redes, o deputado federal Nilto Tatto utilizou um infográfico do site Poder360 para mostrar que o recorde no pagamento de juros da dívida deveria ser atribuído ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e não ao governo Lula. “A foto ali deveria ser do Campos Neto e não do Lula, ou estou enganado?”, ironizou Tatto, lembrando que Campos Neto é um bolsonarista.
Até o final de junho, de acordo com dados do Banco Central, a dívida bruta chegou a 77,84%, ante 76,7% do mês anterior. A alta se deve, não apenas ao patamar elevado da Selic, mas também à alta do dólar, que subiu no mundo inteiro. Analistas do mercado financeiro são os primeiros a apontar que o cenário não deve mudar com os atuais gastos do financiamento da dívida.
O chamado resultado nominal do setor público consolidado – e que inclui o pagamento de juros – ficou deficitário em R$ 1,108 trilhão no acumulado de 12 meses até junho. Só no mês de junho, o déficit ficou em R$ 135,7 bilhões.
Como lembrou recentemente o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, em audiência no Senado, a Taxa Selic gera um impacto avassalador no custo da dívida pública. De acordo com Ceron, 40% da dívida pública está diretamente ligada à taxa básica de juros. “Isso gera uma contaminação relevante”, alertou Ceron, em maio. “Claro, a política monetária precisa fazer seu curso; mas de fato essa característica impacta”.
Da Redação
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