O presidente Lula concedeu entrevista aos jornalistas Heron Cid e Wallison Bezerra, da rádio MaisPB, na manhã desta sexta-feira (30). Lula está na Paraíba para entregar o Lote 2 (trechos 1 e 2) do Canal Acauã-Araçagi, que vai garantir o abastecimento de água a 40 municípios da região. No programa Hora H, o presidente tratou da sucessão na chefia do Banco Central (BC) e afirmou que a autarquia não pode obstruir o crescimento da economia e a melhoria de vida da população.
“O papel do Banco Central não é só medir juro não, ele tem que ter meta de crescimento também. Senão, a gente não vai pra lugar nenhum. Se a gente não tiver combinado uma meta de crescimento, com a meta de inflação e com a meta de crescimento da população, do ponto de vista da melhoria de vida, esse país continua estagnado”, criticou, logo após dizer que é preciso haver “explicação” para se aumentar a taxa básica de juros (a Selic), algo que Lula considera inadequado, dados os números positivos da economia.
O petista classificou a atuação de Roberto Campos Neto à frente do BC como “política”, lembrou do trabalho harmônico que realizou com Henrique Meirelles durante seus dois primeiros governos (2003-2010) e teceu elogios ao economista Gabriel Galípolo, o indicado para suceder Campos Neto.
“Ele [Campos Neto] se oferece em muitas reuniões políticas, coisa que não deveria acontecer […] Eu já tive oito anos na Presidência da República, já tive oito anos de presidente do Banco Central. É importante lembrar que o Fernando Henrique trocou quatro. E eu não troquei nenhum, o Meirelles entrou e ficou”, argumentou, ao lembrar que, à época, o ex-presidente do BC era filiado ao PSDB, partido que sempre fez oposição ao Partido dos Trabalhadores (PT).
“O problema é que, no imaginário do mercado, o presidente do Banco Central tem que ser um representante do sistema financeiro e eu não acho que tenha que ser. Tem que ser uma pessoa que goste desse país, que pense na soberania nacional e que tome as atitudes corretas […] Ele [Galípolo] tem o perfil de uma pessoa competentíssima e um brasileiro que gosta do Brasil”, ressaltou.
Lula defendeu ainda que o chefe do Executivo tenha a prerrogativa de indicar o presidente do BC, mas também de tirá-lo, caso seja necessário. “Eu não sei quem é que criou a ideia que o cara é intocável, é um ser superior a tudo”, ironizou. “O presidente do Banco Central, que fica mais em Miami que no Brasil, não quer ser criticado. Ele tem que pensar na indústria, ele tem que pensar no comércio.”
Questionado sobre o embate entre o bilionário Elon Musk, dono da rede social “X”, e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, Lula foi categórico ao pedir respeito às instituições brasileiras. Na avaliação do presidente, “todo e qualquer cidadão, de qualquer parte do mundo, que tem investimento no Brasil está subordinado à Constituição brasileira e às leis brasileiras”.
“Não é porque o cara tem muito dinheiro que ele pode desrespeitar. Esse cidadão é um cidadão americano, ele não é um cidadão do mundo. Ele não pode ficar ofendendo os presidentes, ofendendo os deputados, ofendendo o Senado, ofendendo a Câmara, ofendendo a Suprema Corte. Ele pensa que é o quê?”, rechaçou. “Se vale para mim, vale para ele”, concluiu.
Sobre a prolongada crise política e econômica na Venezuela, Lula lembrou de uma carta que escreveu ao presidente Nicolás Maduro, logo após a morte de Hugo Chávez, com recomendações para apaziguar os conflitos sociais no país. “Eu, sinceramente, não sei o que o Maduro fez. Ele fez uma opção política. Eu tomei muito cuidado de reunir o México e a Colômbia para a gente tomar a decisão conjunta”, ponderou.
O presidente também respondeu sobre o contencioso diplomático com a Nicarágua, governada pelo presidente Daniel Ortega. Recentemente, o embaixador brasileiro foi expulso do país por não ter comparecido a um evento oficial. “Eu mandei a embaixadora dele embora também […] Esse comportamento, eu não aceito. Esse país é muito grande. O Brasil não tem contencioso com ninguém. O Brasil não quer contencioso com ninguém”, reiterou.
Em outra entrevista, dessa vez ao Jornal da Paraíba, Lula assegurou que o governo federal fará “o que for necessário” para concluir as obras voltadas à educação mas que foram esquecidas pelas políticas neoliberais dos governos de Michel Temer (MDB) e de Jair Bolsonaro (PL).
“As obras que não foram concluídas no tempo do Temer e de Bolsonaro, nós vamos fazer o que for necessário para concluir, se for necessário fazer novas licitações, nós faremos, mas isso não vai nos impedir de também garantir a expansão da rede de ensino técnico federal, que é muito importante para o desenvolvimento do interior do estado”, explicou o petista.
Da Redação
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