O auditório do câmpus I da Universidade Paranaense (Unipar) em Toledo recebeu nesta quinta-feira (27) a primeira edição do Seminário Regional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. O evento, promovido pela Secretaria Municipal de Políticas para Infância, Juventude, Mulher, Família e Desenvolvimento Humano (SMDH) em parceria com a Embaixada Solidária e a Câmara Técnica de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (CTETP) de Foz do Iguaçu, visa à formação de agentes que saibam identificar e a agir diante de uma situação suspeita.
Com o tema “Tráfico de pessoas em Toledo: como identificar?”, o seminário foi aberto com breves falas de algumas das autoridades e lideranças presentes: o vice-prefeito Ademar Dorfschmidt; promotor da 2ª Promotoria de Justiça da Comarca de Toledo, José Roberto Moreira; titular da SMDH, Rosiany Favareto; coordenador da CTETP/Foz do Iguaçu, José Carlos Souza da Silva; e presidente da Embaixada Solidária, Edna Nunes da Silva.
Em seus pronunciamentos, José Carlos e Edna destacaram que o tráfico de pessoas é um das maiores atrocidades do mundo atual. “Oficialmente nossa câmara existe desde 2018, mas a semente foi plantada em nosso coração quatro anos antes, quando a Campanha da Fraternidade tratou deste problema que acomete sobretudo imigrantes e populações altamente vulneráveis”, relata o coordenador, que é integrante da Cáritas da Diocese de Foz do Iguaçu. “Fico muito feliz em ver esta questão sendo elevada à condição de política pública e também por ver tanta gente interessada em conhecer melhor este assunto que representa uma grave violação dos direitos humanos”, destaca a presidente.
Por sua vez, Rosiany e José Roberto trataram da invisibilidade com a qual o tema ainda é tratado pela comunidade em geral. “Temos neste auditório representantes de diversas políticas públicas, pessoas que estão na ponta, no atendimento direto à população. É importante a presença de todos para que o assunto ‘tráfico de pessoas’ seja trazido à luz, e contamos com o apoio de vocês, dos poderes constituídos e da sociedade toledana para esta difícil missão”, convida a secretária. “De 2000 para cá, a população de Toledo cresceu 50% e este aumento fez surgir novas demandas e devemos nos adaptar a realidades que desconhecíamos até bem pouco atrás. As soluções não estão prontas, é preciso inovar. Antes, porém, devemos, por meio de entendimentos entre Estado e sociedade, entender a situação do tráfico de pessoas, elaborar estratégias e executá-las”, comenta o promotor.
Em sua fala, Ademar mencionou a tragédia ocorrida na tarde desta quarta-feira (26) em razão da explosão em um dos silos da fábrica de rações da C. Vale, a qual tinha resultado, até o momento do seu pronunciamento, em oito vítimas fatais. “É uma manhã muito triste para o Oeste do Paraná, tanto que o prefeito Beto Lunitti se deslocou até Palotina para oferecer suporte e prestar solidariedade. Estamos à frente de uma gestão que gosta de cuidar das pessoas e não poderíamos nos eximir desta responsabilidade numa hora dessas”, pontua. “E é em função deste zelo para com a população mais vulnerável que, por exemplo, criamos a SMDH, que, a despeito de todas as críticas que recebemos, aglutinou várias pastas de forma a dar a vários grupos um atendimento mais amplo, oferecendo-lhes um tratamento integral e compreendendo as peculiaridades de cada pessoas que recorre aos serviços oferecidos pelo município. Tivemos a coragem de implementar ações que, a princípio, pareciam ser impopulares, mas hoje já começamos a colher os frutos da decisão que tomamos”, avalia o vice-prefeito.
Formação
A formação aos participantes do 1º Seminário Regional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas foi iniciada com a distribuição da cartilha “Tráfico de pessoas: o que é? Informações relevantes para a atuação em Foz do Iguaçu e Toledo”, material que também serviu de subsídio para o 9º Seminário Internacional da Tríplice Fronteira, realizado em Foz do Iguaçu na última quinta-feira (20). Após a solenidade de abertura, uma sequência de palestras e outras dinâmicas apresentou o conteúdo básico a respeito do assunto principal do evento.
A primeira delas – “Tráfico de pessoas: conceitos gerais e panorama do fenômeno em âmbito nacional e internacional” – foi com a jornalista e professora universitária Rosane Amadori, que está elaborando tese sobre o assunto no doutorado em Sociedade, Cultura e Fronteiras que ela está cursando no câmpus Foz do Iguaçu da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). “Este tema tem preocupado cada vez mais as autoridades de todo o mundo e deixo aqui meus parabéns à Prefeitura de Toledo e ao Ministério Público local por estarem atentos a esta situação, ouvindo também vozes de toda a sociedade em busca de soluções. Um município melhor se faz com uns cuidando bem dos outros”, destaca. “O seminário realizado em Foz na semana passada e agora o de Toledo são alusões ao “Coração Azul”, campanha criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para fomentar ações de combate a este crime durante julho, pois é neste mês, no dia 30, que se recorda o Dia Mundial de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas”, acrescenta.
Depois de Rosane, a advogada e consultora empresarial Anna Paula Patruni, que é mestre em Sociedade, Cultura e Fronteiras, tratou do tema “Tráfico humano: complexidades, modalidades e aspectos relevantes”. As palestras no período da manhã seguiram com a consultora e professora universitária Verônica Maria Teresi, que é doutora em Ciências Humanas em mestre em Direito Internacional, falou a respeito de “Caracterização das vítimas do tráfico de pessoas, vulnerabilidades e interseccionalidade: a construção da Política Pública de enfrentamento”. Para encerrar a primeira parte do evento, “O Combate ao Tráfico de Pessoas pela Polícia Federal” foi abordado na fala do chefe da Divisão de Repressão ao Tráfico de Pessoas e Contrabando de Migrantes da corporação, Cristiano Eloi, que já trabalhou por vários em área de fronteira e hoje é professor da Academia Nacional de Polícia.
As atividades do período vespertino foram iniciadas com mesa-redonda da qual participaram a titular da SMDH, o promotor da 2ª Promotoria de Justiça da Comarca de Toledo, a presidente da Embaixada Solidária e representantes de forças de segurança: o comandante da 1ª Companhia do 19° Batalhão de Polícia Militar e a responsável pela Delegacia da Mulher, Ana Cris Oliveira. Em seguida, Anna Paula e Cristiano trataram do tema “Repressão ao tráfico de pessoas” e Verônica falou a respeito de ações de “Assistência às vítimas”.
Logo após sua fala, Verônica permaneceu no palco e, ao lado de Anna Paula e Rosane, comandou a plenária de encerramento “Perspectivas de ação e reflexões finais”. Por fim, os palestrantes foram agraciados de forma simbólica com obras de arte assinadas pela artista plástica Larissa Salgado e doadas pela Embaixada Solidária, as quais têm como elementos principais o pássaro, animal que simboliza a migração daqueles que percorrem longas distância em busca de melhores condições de vida, e a flor, que traduz a esperança de um recomeço para todas as vítimas do tráfico de pessoas que foram resgatadas e acolhidas, recuperando a liberdade e a esperança – a sublimação destas telas foi viabilizada pelo projeto “Faces, Mulheres pelo Mundo”, uma parceria da entidade com o Rotary Clube de Toledo – Aliança.
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