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Os esforços do mercado editorial para atrair consumidores às livrarias

Investimento em experiência de compra e parcerias com criadores de conteúdo são algumas das estratégias de redes como Travessa, Livraria da Vila e Martins Fontes

02/08/2023 às 10h00
Por: Redação Fonte: Caio Fulgêncio _ Meio e Mensagem
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Livraria da Vila tem 18 lojas (Crédito: Divulgação)
Livraria da Vila tem 18 lojas (Crédito: Divulgação)

Não é de hoje que a popularização das vendas online de livros suscita discussões a respeito do quanto livrarias físicas ainda são modelos sustentáveis de negócio. Os preços quase sempre mais baixos praticados, sobretudo, por grandes marketplaces exigem um estratégico jogo de cintura do mercado editorial para atrair consumidores presenciais.

 

Mercado editorial: Livraria Cultura, Paulista

O mercado editorial se esforça para criar espaços atrativos (Crédito: Reprodução/Livraria Cultura)

 

Nesse sentido, no final de junho, o segmento repercutiu na mídia por causa do fechamento temporário da loja icônica da Livraria Cultura na Avenida Paulista, em São Paulo (SP). No início deste mês, no entanto, com uma liminar que suspendeu a falência que motivou a interrupção, o estabelecimento reabriu as portas. A decisão determinou, ainda, a retomada do plano de recuperação judicial da empresa.

 

Ainda que, naturalmente, suscite discussões a respeito do setor, a situação da Cultura tem mais a ver com questões “individuais” do que, de fato, com mercado. A análise é de Alexandre Fontes, diretor-executivo da Livraria Martins Fontes, cuja sede também é na Paulista. “O que houve nesse caso foi uma combinação de erros administrativos”, opina.

 

De qualquer forma, segundo Fontes, manter uma livraria em pleno funcionamento requer alto nível de resiliência, sobretudo no Brasil, que carece de legislações na área. Exemplo dessa necessidade é a Lei Cortez (PL 49/2015), que tramita no Senado com apoio massivo dos livreiros brasileiros. O texto regulamenta a variação máxima de descontos no primeiro ano de lançamento de títulos.

 

A regulamentação – a exemplo do que ocorre em países como Portugal, Japão e Argentina – deve equilibrar a concorrência com os marketplaces. “Para manter o negócio, o livreiro precisa de margem entre o valor pago à editora e o vendido para o consumidor. E, com toda certeza, marketplace não ganha dinheiro vendendo livros, mas usa o livro para atrair consumidores”, esclarece.

 

Vitrine de lançamentos

Rui Campos, um dos proprietários da Livraria da Travessa, concorda com Fontes. “Eles [marketplaces] trabalham no ‘vermelho’ com o livro desde que capturem esse cliente, só que isso arrasa o mercado”, diz. “É preciso que se tome providências e que as próprias pessoas tenham consciência disso, porque, com livrarias fechadas, a vida nas cidades e a cultura perdem muito”, inclui.

 

Samuel Seibel, presidente da Livraria da Vila, reitera que, diante da concorrência predatória, o comércio físico vem demostrando resiliência, inclusive no período da pandemia da Covid-19. Para ele, os estabelecimentos, mesmo incrementados por e-commerce, são a “principal vitrine de lançamentos” do mercado editorial.

 

O surgimento e expansão de diversas redes nos mais variados estados do Brasil comprovam, de acordo com o empresário, essa força. Muitas dessas movimentações foram motivadas, inclusive, pelos espaços criados a partir de crises como a vivenciada pela Livraria Cultura. “Isso mostra que as livrarias físicas estão vivas, são importantes e bem trabalhadas”, completa.

 

 

Livraria da Vila tem 18 lojas (Crédito: Divulgação)

 

A própria Livraria da Vila abriu três unidades em 2022, totalizando 18 lojas. Além disso, neste ano, a empresa deve abrir uma loja temporária de artes no shopping JK, em São Paulo. “O nosso lema de crescimento é ousadia com o pé no chão”, revela.

 

Conforme Campos, o otimismo ao redor desse modelo de negócios pode ser explicado também pela preferência das pessoas por livros físicos, paixão que sobreviveu às versões digitais. Além disso, ele lembra que as vendas de e-books no Brasil representam apenas 5% do total de obras comercializadas.

 

“O amor que as pessoas devotam a esse objeto multissensorial se mostra firme e forte no mundo todo. O que mudou é que as vendas passaram a se dividir entre o físico e online. No entanto, sem a vitrine que agrega essa sedução, o encontro do livro com o leitor fica prejudicado”, afirma.

 

Estratégias

Mais do que uma batalha de preços, os esforços do mercado editorial se voltam para fidelização dos consumidores. E, nesse território, não há muito segredo. A principal estratégia é oferecer a melhor experiência possível para o leitor, da construção de espaços confortáveis até o atendimento personalizado.

 

Seibel afirma que, além de uma decisão de negócios, tentar estabelecer uma relação de proximidade com os consumidores é parte do conceito da Livraria da Vila. “Temos a missão de desenvolver o hábito da leitura desde o público infantil, que é nosso carro-chefe. Então, sempre temos nas nossas lojas contação de histórias, eventos de lançamento e shows”, diz ele.

 

Campos acrescenta que, na Travessa, as decisões estratégias se resumem em “3 As”: arquitetura, atendimento e acervo. “É o tripé que define nossos investimentos”, diz. Hoje, a empresa contabiliza 13 unidades e, ainda em agosto, vai abrir mais uma livraria no Shopping Villa Lobos, na capital paulista.

 

Fontes, da Livraria Martins Fontes, por sua vez, é categórico ao explicar o olhar para os espaços de trocas presenciais. “Para ser bem-sucedida, a livraria física tem que fazer e oferecer tudo aquilo que o marketplace não consegue oferecer. Então, se souber se aproveitar dessas oportunidades, essas empresas vão se estabelecer no mercado”, argumenta.

 

Mercado editorial e redes sociais

As redes sociais representam outra forma de se manter presente na lembrança dos consumidores, principalmente em parceria com influenciadores especializados. BookTok, por exemplo, é o nome dado a um tipo de comunidade no TikTok formada por apaixonados por leitura. Tais grupos, que cresceram muito durante a pandemia, promovem discussões e indicações de obras, sendo responsáveis também por revelar novos autores.

 

Para o presidente da Livraria da Vila, nos últimos tempos, houve crescimento do interesse de jovens pelas livrarias, motivado pelas grandes franquias de séries e filmes, como Harry Potter e Crepúsculo. Para ele, essa onda de criadores de conteúdo ajuda, justamente, a fortalecer ainda mais esses laços. “Na minha opinião, nunca se falou tanto de livros como nos últimos poucos anos”, comenta Seibel.

 

“De fato, quando falamos sobre a venda de livros no mundo, a notícia que temos é que a parte que mais cresce é a infanto-juvenil. Isso é interessante, porque aponta para o futuro, para uma renovação”, complementa Campos. Pensando nessa aproximação, a Livraria da Travessa costuma fazer eventos com livros de influenciadores. “Por isso, para nós, é fundamental o olhar para as redes sociais”, pontua.

 

“Antes da internet, se falava que o livro virava um best-seller por conta do boca a boca. E eu pergunto: hoje, o que é a mídia social a não ser esse boca a boca? Isso é muito positivo para mercado. Não tenho dúvidas de que o mercado editorial vende muito mais por causa das redes”, finaliza Fontes.

 

 

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