São Paulo – “Minha filha está hipermachucada, à base de calmante. Ela foi molestada por dois policiais, no banco traseiro da viatura”, afirmou à reportagem, no fim da tarde dessa terça-feira (4/3), a mãe de uma jovem de 20 anos que teria sido abusada sexualmente por dois policiais militares do 24º Batalhão de Polícia Militar, de Diadema, na Grande São Paulo, quando ofereceram carona para a vítima no domingo (2/3).
Como revelado pelo Metrópoles, o soldado Leo Felipe Aquino da Silva e o cabo James Santana Gomes foram presos em flagrante, segunda-feira (3/3). Ambos tiveram as prisões preventivas, ou seja, por tempo indeterminado, decretadas pela Justiça e seguem atrás das grades, no Presídio Militar Romão Gomes, na zona norte da capital. A defesa deles não foi localizada, o espaço segue aberto para manifestações.
A mãe da vítima pontuou que ambas passaram o dia inteiro no Hospital da Mulher, no centro de São Paulo, na segunda-feira (3/3).
“As pernas da minha filha, você não acredita, parece que ela foi espancada. A perita do IML [Instituto Médico Legal] disse [durante exame] que nunca viu uma coisa dessa, é coisa de outro mundo o que fizeram com ela”, reforçou.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou, em nota enviada à reportagem, que o soldado e o cabo foram presos pelos crimes de “abandono de posto” e “descumprimento de missão” pelo fato de darem carona para a jovem, na noite de domingo. Ambos deixaram a área de patrulhamento a eles incumbida “sem autorização e sem motivo justificado”.
“Após sair da viatura, a jovem acusou os policiais de estupro, denúncia que é rigorosamente apurada pela instituição”, disse.
O crime
O padrasto da vítima, segundo comunicação feita à PM, por meio do 190, afirmou que a sobrinha estava em um bloco de Carnaval, em Santo André, no ABC. Por volta das 22h05, já em Diadema, segundo o relato obtido pela reportagem, a foliã pediu ajuda ao soldado Leo e ao cabo James, do 24º Batalhão.
Ambos pediram “para ela entrar no veículo [viatura], porque iam levá-la para casa”, disse o parente da vítima.
Às 22h27, a jovem enviou áudio no qual pedia ajuda e afirmava ter sido abusada sexualmente. No registro feito pelo Centro de Comunicação da PM, consta ainda que os policiais teriam solicitado que a vítima apagasse a mensagem, “pois no áudio informa que os PMs abusaram dela sexualmente”.
Cinco minutos após o envio do áudio, a jovem encaminhou um vídeo feito dentro da viatura, bem como fotos dos dois policiais. O serviço reservado do 24º Batalhão, então, foi acionado para apurar a denúncia feita via 190.
Deixada em rodovia
No início da madrugada de segunda-feira (3/3), um oficial da PM recebeu os vídeos da jovem dentro da viatura. Ele afirma, conforme registros oficiais, não existir “ato libidinoso nas imagens”, acrescentando que, “porém, o último contato dela com o familiar foi às 22h [de domingo]”.
Os dois policiais apontados pela jovem como autores do suposto abuso foram encontrados posteriormente e, indagados, afirmaram ter “prestado apoio à moça”, acrescentando que ela supostamente “entrou em surto na viatura”.
Eles negam ter abusado sexualmente dela e, em decorrência do suposto surto, solicitaram que ela desembarcasse do carro policial, nas proximidades da Rodovia Anchieta. O soldado Leo e o cabo James portavam câmeras corporais, e as imagens serão analisadas pela Corregedoria da PM.
A reportagem apurou que a jovem foi deixada em um descampado, descalça, e que os PMs levaram os pertences dela embora, incluindo o celular.
A jovem foi localizada por familiares na Unidade de Pronto Atendimento do bairro da Liberdade, no centro da capital paulista. Antes disso, ela foi ao 26º Distrito Policial (Sacomã) – como estava emocionalmente transtornada, policiais civis acionaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que a encaminhou à unidade de saúde.