A procura de crédito por parte das empresas cresceu 0,9% em março de 2025 em relação ao mesmo mês de 2024. Apesar da alta, o número é menor que o de meses anteriores, o que indica precaução das companhias em um cenário de juros altos.
O dado faz parte do Indicador de Demanda das Empresas por Crédito, da Serasa Experian, e foi obtido com exclusividade pela Agência Brasil.
O resultado de março é a quarta expansão seguida na procura por crédito na comparação com o mesmo período do ano anterior:
No acumulado de 12 meses até março, a procura por crédito cresceu 4,2%. Em janeiro, o resultado era expansão de 2,9% e, em fevereiro, 3,9%.
De acordo com a economista da Serasa Experian, Camila Abdelmalack, a desaceleração em março tem relação direta com o patamar alto de juros no país.
“O ritmo mais moderado na demanda por crédito em março reflete um cenário de cautela por parte das empresas diante desafios como o custo elevado do crédito e as incertezas econômicas provocadas pelo ambiente de juros elevado”, afirma.
Ela ressalta que o fato de uma empresa buscar crédito, ou seja, contrair dívidas, pode ser uma alavanca poderosa para investimento, pelo fato de que pode viabilizar projetos e também expansão de operações.
“O crédito acaba permitindo que esses investimentos aconteçam de forma antecipada e contribua positivamente para acelerar o crescimento das empresas”, aponta.
Desde setembro do ano passado, o Comitê de Política Monetária (Copom)do Banco Central (BC) tem elevado a Selic, taxa básica de juros da economia. De lá até maio, os juros passaram de 10,5% ao ano para 14,75% ao ano.
Por ser a taxa básica de juros, a Selic pode ser entendida como o custo dos bancos para captarem dinheiro. Dessa forma, o comportamento da Selic influencia outras taxas, como a dos empréstimos fornecidos pelas instituições financeiras.
A justificativa do Copom para aumentar a Selic ao longo dos últimos meses é o combate à inflação, uma vez que aumentar o custo do dinheiro desestimula o consumo das famílias, esfriando a economia, de forma que os preços recuem ou subam menos.
De acordo com o BC, o efeito da Selic na inflação leva de seis a nove meses para se tornar significativo.
Em abril - dado mais recente – o acumulado de 12 meses da inflação oficial, apurada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de 5,53%, acima da meta do governo de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
Uma consequência da política monetária restritiva (juros altos) é que empresas ficam menos propensa a pegar empréstimos para investir.
A economista da Serasa Experian avalia que a oscilação dos últimos meses, com momentos de baixa na procura e de alta, mesmo com juros altos, envolve bastante incerteza econômica em relação ao cenário prospectivo (busca por recursos), ao tamanho da desaceleração da economia, a como a taxa de juros pode impactar o consumo do brasileiro por bens e serviços.
“Existem muitas incertezas no cenário econômico que acabam justificando essa volatilidade de uma demanda às vezes um pouco mais forte, às vezes um pouco mais fraca e a demanda não necessariamente sofre uma contração porque muitas empresas, especialmente as micro e pequenas, acabam buscando o crédito como apoio para enfrentar esses momentos, afirma.”
O indicador da Serasa Experian - empresa de tecnologia de dados que atua também na análise de crédito, autenticação e prevenção à fraude – revela que, em março ante o mesmo período do ano passado, o crescimento de 0,9% na procura por crédito empresarial foi empurrado pelos micro e pequenos empreendimentos (alta de 1,1%). Companhias de médio e grande porte registraram queda de 4,8% e 4,7%, respectivamente.
“Olhando especialmente para as micro e pequenas empresas, a utilização do crédito, especialmente nesses períodos de taxa de juros elevados, está normalmente mais associada a uma alternativa para melhorar a gestão financeira, melhorar a gestão do fluxo de caixa, possibilitando que as empresas mantenham suas operações e obrigações em períodos de receita mais comprometida, de receita menor”, detalhou Camila Abdelmalack à Agência Brasil.
A economista acrescenta que os micro e pequenos negócios também podem usar o crédito como impulsionador de crescimento, porém, é uma ação que “acaba funcionando melhor em momentos de taxa de juros mais baixa e não no ambiente hoje, de taxa de juros restritiva”.
A pesquisa mostra que a procura por empréstimos por parte de empresas do setor de serviços apresentou crescimento de 3,3% em março, seguido pela indústria (2,9%). Já o comercio recuou 2,5% na busca por crédito.
Para chegar aos números, a pesquisa consultou uma amostra de 1,2 milhão de CNPJ.