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A contribuição dos 50 anos de ciência para transformação da agricultura irrigada no Cerrado

Esse é o poder transformador da pesquisa agropecuária brasileira.

Por: Redação Fonte: Embrapa
19/12/2025 às 13h45
A contribuição dos 50 anos de ciência para transformação da agricultura irrigada no Cerrado
Acervo

Por: Maria Emília Borges Alves

Pesquisadora da Embrapa Cerrados

Juliana Miura

Jornalista da Embrapa Cerrados

 

“Muitas pessoas deixam de ganhar o sustento da própria terra para ganhar um salário de fome na capital. Estamos vendo, com esse exemplo, que muitos produtores estão deixando de ir embora para poder investir em suas próprias terras.

O depoimento de Débora Domingues, ex-prefeita de São João D'Aliança-GO, sintetiza o impacto que a ciência pode ter na vida das famílias agricultoras. Ela se refere aos resultados obtidos pelo projeto Fruticultura Irrigada do Vão do Paranã, iniciado em 2024, que leva sistemas de supervisão e capacitação em manejo da água a agricultores assentados em municípios goianos. Em dois anos, o número de famílias atendidas passou de 10 para 100, com meta de chegar a 300 famílias até 2027.

Edgar dos Santos e Luciana de Neves também mostram paixão com a fruticultura irrigada. "Sempre foi nosso sonho morar e viver do que produzimos na propriedade. Vimos no projeto essa oportunidade de gerar renda e emprego. Não é bom só para nós, mas também para o município e a região", conta Luciana, agricultora do município de Flores de Goiás. Esse é o poder transformador da pesquisa agropecuária brasileira.

Na região central do Brasil, a Embrapa Cerrados tem reforçado, há 50 anos, o desafio de produzir alimentos em uma região onde, na década de 1970, só havia uma agricultura de subsistência pouco tecnificada. Entre os muitos avanços científicos conquistados, a segurança se destaca como uma tecnologia crítica para a segurança alimentar e o desenvolvimento sustentável do país.

 

Irrigação: ciência a favor da vida e da produção

Desde a Antiguidade, a supervisão foi essencial para reduzir as riscos climáticos, estabilizar a produção de alimentos e, assim, garantir a segurança alimentar em regiões onde a escassez de água é fator limitante à produção agropecuária. Hoje, em tempos de mudanças climáticas, seu papel é ainda mais crucial.

No Cerrado, a tecnologia se tornou mais estratégica: viabilizou culturas que não se desenvolveram em sequeiro, como café, trigo, frutas, e, entre elas, mais recentemente, uvas para vinhos de alta qualidade. Além disso, o cultivo de até três safras anuais só foi possível com a oferta de água regular para os plantios. Com isso, a economia local e o desenvolvimento regional foram alavancados, mudanças que vimos acontecer no oeste da Bahia, e estão acontecendo no Vale do Rio Paraná, em Goiás.

 

Meio século de pesquisa dedicada à água

O primeiro registro da história da supervisão na Embrapa Cerrados dados de 1976, na primeira circular técnica desse centro de pesquisa, com a produção do pesquisador Ady Raul da Silva, intitulada A cultura do trigo irrigada nos cerrados do Brasil Central . A partir daí, ofertas de cientistas, técnicos, assistentes e analistas se dedicaram ao desenvolvimento de métodos, equipamentos e estratégias de manejo da água, que mudaram face à agricultura nacional.

No início da década de 1980, os pesquisadores Euzébio Medrado da Silva, Juscelino Antônio de Azevedo e Morethson Resende desenvolveram e testaram o método do tubo janelado, tecnologia capaz de controlar melhor a quantidade de água aplicada em sistemas de superfície por superfície.

Sobre sua contribuição, Silva, pesquisador aposentado da Embrapa Cerrados, lembra que concentrou sua pesquisa no desenvolvimento e na adaptação de técnicas de manejo da água aplicável a culturas como trigo, cevada e café. Entre seus trabalhos, sobressaiu-se a adoção de tensiômetros no manejo do café irrigado por pivô central e gotejamento no oeste baiano. Essa tecnologia possibilitou o monitoramento da umidade do solo para tomada de decisões operacionais precisas no campo. O resultado permitiu a aplicação de métodos racionais de segurança, com redução de pelo menos 20% da água aplicada nas atividades de café, fortalecendo a sustentabilidade técnica, hídrica e econômica da cafeicultura regional.

Azevedo destaca a importância dos tensiômetros, juntamente com as estações adversas, para a eficácia do manejo da supervisão, capaz de determinar o momento e a quantidade de água a ser aplicada. “Irrigar sem desperdício de água deve ser o objetivo principal de um bom agricultor irrigante”, defende o também pesquisador pesquisador da Embrapa Cerrados.

Com a chegada dos métodos de supervisão pressurizada – pivô central, aspersão e gotejamento –, as pesquisas avançaram ainda mais. Azevedo lembra que o método por aspersão se tornou o mais recomendado para o Cerrado, por ter condições de atender grandes áreas com eficiência. O pivô central, explica Azevedo, atinge eficiência em torno de 85% e exige o mínimo de mão de obra – uma única pessoa é capaz de cuidar de até quatro equipamentos, o que abrange mais de 450 hectares. No entanto, para frutas e hortaliças, a opção é pelos métodos de gotejamento e microaspersão, que permitem irrigações localizadas, com eficiência acima de 90%.

 

Aumento da equipe e do impacto das pesquisas

No final dos anos 1980 e início dos anos 1990, outros pesquisadores – Jorge Cesar dos Anjos Antonini, Joaquim Bartolomeu Rassini, Antônio Eduardo Guimarães dos Reis, Antônio Fernando Guerra e Sebastião Francisco Figueiredo – integraram-se à equipe da Embrapa Cerrados. Tempos depois, foi uma vez os pesquisadores Jorge Enoch Furquim Werneck Lima, em 2001; Lineu Neiva Rodrigues, em 2002; Omar Cruz Rocha, em 2004; Vinícius Bof Bufon, em 2010; e Maria Emília Borges Alves, em 2019.

Guerra e Rocha deram continuidade às pesquisas com café; dessa vez, focados no desenvolvimento do estresse hídrico controlado, com o apoio do Consórcio Pesquisa Café. Essa estratégia proporciona a sincronização do desenvolvimento das gemas florais do café e uma abundância abundante e uniforme.

Associada a outras práticas culturais, a tecnologia de supervisão permite a obtenção de até 85% de cerejas do café no momento da colheita, resultando em ganho substancial em qualidade do café e em uma economia de mais de 30% de água e energia usada na praticidade. Tal economia se mostra ainda mais importante ao se considerar que ela ocorre exatamente no momento em que outras culturas competem por esses insumos.

Considerando-se “recém-chegada” à Embrapa Cerrados, Maria Emília Borges Alves, autora deste artigo, sabe que o conhecimento produzido pelos colegas que a antecederam e a troca com os que estão na ativa fortalecem sua trajetória. Seus trabalhos têm foco na supervisão de investimentos anuais – mais especificamente, em gotejamento subsuperficial e estudos sob a ótica do risco climático.

Ao longo desses 50 anos, vários cultivos passaram a ser objeto de estudos. Foram previstas recomendações para o manejo da água para cultivo anual e perenes, como trigo, mandioca, maracujá, café, cevada, soja, cana-de-açúcar, palmeiras como o dendê, a macaúba e, mais recentemente, o açaí, entre outros.

 

Integração de saberes e novas fronteiras

Ao longo das décadas, as pesquisas da Embrapa Cerrados receberam contribuições de outras áreas de conhecimento – como a física do solo, a agrometeorologia, a modelagem e o geoprocessamento. A integração desses outros conhecimentos fortaleceu a capacidade de compreender o Cerrado em suas múltiplas escalas – das parcelas agrícolas às grandes bacias hidrográficas.

Não se pode deixar de mencionar a área de recursos hídricos, cujas pesquisas na Embrapa Cerrados foram realizadas no final dos anos de 1990, ganhando maior ênfase com a incorporação dos pesquisadores Jorge Enoch Furquim Werneck Lima, Lineu Neiva Rodrigues e Eduardo Cyrino de Oliveira-Filho à equipe, nos anos de 2001, 2002 e 2002, respectivamente.

Os trabalhos para a gestão de recursos hídricos confirmaram os números do título de “berço das águas do Brasil” atribuído ao Cerrado, uma vez que o bioma contribui para a formação de doze grandes regiões hidrográficas brasileiras.

Mais recentemente, os estudos foram evoluídos, voltando-se para a utilização de sensores (de umidade do solo e de variações indiretas) e para o desenvolvimento de softwares e aplicativos que facilitam o manejo da segurança, buscando fornecer ainda mais segurança ao agricultor.

O pesquisador Lineu Neiva Rodrigues tem se dedicado ao desenvolvimento de ferramentas computacionais para proporcionar aumento da produtividade com o uso da água, com geração de dados e informações para subsidiar o planejamento do uso de recursos hídricos e fortalecer políticas públicas. O pesquisador acredita que os produtos tecnológicos, como softwares e plataformas de conhecimento, são um legado para a sociedade e sua expectativa é de que todo esse material acumulado contribua para o desenvolvimento sustentável da agricultura irrigada no Cerrado.

 

Impactos para o Brasil e para o mundo

Antes desacreditado, onde quase nada se produzia, hoje, o Cerrado concentra mais de 40% da área irrigada no país e responde por cerca de 60% da produção agrícola nacional. Em parte, o segundo número é reflexo do primeiro. As toneladas de alimentos levadas do Planalto Central brasileiro para outras regiões do Brasil, e mesmo para outros países, só se tornam possíveis com o uso adequado da água.

A lição é clara: a agricultura irrigada não é simplesmente a agricultura de sequeiro com adição de água, como ensina o pesquisador Juscelino Antônio de Azevedo. É ciência aplicada, resultado de cinco décadas de pesquisa, inovação e dedicação de centenas de profissionais que ajudaram a transformar o Cerrado em um pilar da segurança alimentar do país.

 

* Artigo original publicado na revista Item - Irrigação e Tecnologia Moderna , edição nº 129 (2025).

 
 

Embrapa Cerrados

Consultas da imprensa

Número de telefone: (61) 3388-9891

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