Embrapa cria Rede de Restauração de Ecossistemas

Uma rede composta por quase 150 especialistas dos centros de pesquisa da Embrapa foi criada com o propósito de desenvolver diversos modelos de restauração de ecossistemas (produtivos e ecológicos) para implementar políticas públicas e sistemas de financiamento, identificar as lacunas tecnológicas e de conhecimento nas diferentes áreas de restauração de ecossistemas, realizar a governança interna da rede e gerenciar conhecimentos sobre o tema.

Mais de 80 especialistas participaram do workshop on-line que marcou a criação oficial do grupo, no dia 28 de junho, com a presença da Diretoria de Negócios (DENE) e da Diretoria de Pesquisa e Inovação (DEPI).

Batizada de Rede Restauração de Restauração de Ecossistemas, a iniciativa é a primeira entrega do Grupo de Trabalho de Restauração de Ecossistemas, constituída em janeiro de 2024 e composta por 12 participantes. O GT infectou e mapeou os especialistas da Embrapa que atuam no tema, com focos diferenciados, entre eles a gestão da informação, avaliação e projetos; transferência de tecnologia e inclusão socioprodutiva; estudos socioeconômicos e valorização econômica; e gestão e governança externa.

A formação da rede surge naturalmente a partir do entendimento da Embrapa sobre a importância do tema, pois é uma grande demanda do governo federal e consequentes políticas públicas. A diretora Ana Euler destacou que o país possui um conjunto de políticas ligadas ao Plano Nacional de Mudanças Climáticas e compromissos assumidos no Acordo de Paris, entre eles a meta de restauração de 12 milhões de hectares de florestas até 2030, além de metas assumidas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para expansão de áreas agropecuárias com ILPF e de restauração de pastagens degradadas que se transformaram recentemente em uma política nacional do Mapa.

“Hoje a restauração não tem apenas o viés de responder ao Cadastro Ambiental Rural (CAR) no âmbito da Lei de Proteção da Vegetação Nativa (Novo Código Florestal), mas também de ser uma das respostas concretas do Brasil para capturar carbono na atmosfera com atividades produtivos. Se há 10 anos, nossa encomenda era apoiar modelos de restauração ecológica de diferentes biomassas, na visão de implementação do CAR, hoje a nossa demanda supera esse escopo com alternativas de produção sustentável. O governo espera que as pesquisas da Embrapa possam apoiar diferentes modelos de restauração ecológica, produtiva e energética, para que o Brasil seja capaz de alcançar a liderança de sumidouro de carbono”, diz a diretora Ana Euler, lembrando que a restauração hoje é vista como parte essencial da cadeia produtiva da bioeconomia.

Nesse sentido, a Embrapa vem atuando com diferentes fontes de financiamento, como o BNDES, no âmbito do desafio do governo de zerar o desmatamento e reverter passivos ambientais no Arco do Desmatamento, região composta por 256 municípios em um território que vai do oeste do Maranhão até o sul do Pará em direção ao oeste, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre. Para isso, o governo federal lançou em dezembro de 2023 o Programa Arco da Restauração, com previsão de investimento de cerca de R$ 1 bilhão.

“Somado a isso, temos a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural – Anater, que possui recursos para transferência destas tecnologias e, que pode ser grande parceira nessa cadeia de restauração”, acrescentou a diretora. 

Para ela, são diversas oportunidades e compromissos assumidos pela Embrapa que poderão contar com o trabalho da Rede Restauração de Ecossistemas. “É uma responsabilidade e uma expectativa grande que se tem em relação à contribuição da Embrapa para todas essas políticas”, complementando, mencionando, ainda, o desafio da COP 30, em 2025, quando o país necessitará das informações geradas por esta rede, para apresentar ao mundo no âmbito da restauração de ecossistemas.

O diretor de Pesquisa e Inovação, Clenio Pillon, destacou a importância da criação desta rede para apoiar as entregas do GT, especialmente para o Plano de Ação que a Embrapa apresentou à Casa Civil de recuperação das áreas produtivas do RS. “Esse programa de restauração ambiental é um dos seis programas que julgamos estruturantes para a recomposição da capacidade produtiva do RS e nas questões ambientais do estado”, disse.

Temos imensos passivos no Brasil com relação à restauração ambiental nas Áreas de Preservação Permanente (APP onde há ambientes ripários como as matas ciliares e de galeria) e das Reservas Legais. “O que assistimos nas necessidades de RS é uma realidade, mas que também está presente em outros estados. Por isso, precisamos de uma agenda como essa de restauração ambiental, que nos permita entregar os conhecimentos e as soluções que a Embrapa já tem, inclusive”, afirmou Pillon.

Solo, água, fauna, flora e o conceito de Saúde Única devem ser considerados pela Rede, segundo o diretor. Ele destacou ainda a importância que a Rede projeta para os próximos anos o que pretende entregar e quais estratégias serão adotadas para o engajamento de atores externos e financiamento. Ele apoiou o GT na união de esforços para lançar um programa robusto de PD&I no tema do escopo da Embrapa. “Precisamos articular com políticas públicas e também clareza sobre as entregas que queremos fazer, em termos de pesquisa e sua transferência aos multiplicadores”.

Próximos passos

Com base nos subsídios entregues pela nova rede da Embrapa, a Diretoria-Executiva irá organizar um workshop interno de validação dos modelos e um workshop final para financiadores como BNDES e MDS, onde serão apresentados os modelos com vistas ao financiamento das ações. 

Os diretores Clenio Pillon e Ana Euler (à esquerda), José Felipe Ribeiro (à direita) e Daniel Papa (ao baixo, à esquerda) debatem com os participantes dos próximos passos da rede