Estratégicos para a soberania alimentar e energética do Brasil, os biofertilizantes estão no centro das preocupações do governo federal. Em 2023, o setor agropecuário importou quase 40 milhões de toneladas do insumo, o equivalente a 87% de suas necessidades. Diante de tal cenário, a busca pela mitigação da dependência externa movimenta a administração Lula no sentido de fortalecer a produção brasileira de adubo. O objetivo previsto no Plano Nacional de Fertilizantes (PNF) é que metade da demanda interna seja suprida no próprio país até 2050.
De acordo com estimativas do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), em 2050, o Brasil passará a consumir 78 milhões de toneladas de fertilizantes. Por isso, o governo Lula vem estimulando a construção de 15 novas fábricas, investimentos na ordem de US$ 40 bilhões. A Petrobras também está engajada: a estatal pretende reativar, em 2025, a refinaria paranaense Araucária Nitrogenados S.A (Ansa), e retomar as obras da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados 3 (UFN-3), em Minas Gerais, além de investir em gás natural.
Por ano, a Ansa é capaz de produzir 720 mil toneladas de ureia e 475 mil, de amônia, ambos fertilizantes nitrogenados. Já a UFN-3 garante 1,3 milhão de toneladas de ureia e outras 800 mil, de amônia. Juntas, essas pesagens equivalem à metade de toda a produção brasileira de adubo, estimada hoje em 6,8 milhões de toneladas.
O Conselho Nacional de Fertilizantes e Nutrição de Plantas (Confert) – órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) – articula a criação de um centro público-privado de excelência em biofertilizantes, com previsão de funcionamento em estrutura física a partir do ano que vem. Dos projetos de infraestrutura, logística, produção, inovação, entre outros, recebidos pelo Confert, cerca de 50 foram avaliados como estratégicos.
A ampliação da demanda interna por fertilizantes, nos próximos anos, conduz as empresas a fazerem novos investimentos. No ano passado, o faturamento do setor chegou a R$ 22,6 bilhões. Em 2024, a expectativa é de que esse montante seja acrescido em 11%, aponta a Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo).
A multinacional Mosaic vai aplicar R$ 400 milhões na nova unidade misturadora em Tocantins. A previsão é de que ela inaugure as operações em 2025. Eduardo Monteiro, gerente da empresa, espera que a produção de biofertilizantes atinja um milhão de toneladas até 2028.
A Itafos reservou R$ 350 milhões para o projeto Santana. Depois de ser incluída na lista estratégica do Confert, ela pretende produzir, no estado do Pará, 500 mil toneladas de insumos fosfatados por ano. Segundo o presidente da empresa, Felipe Coutas, a unidade deve iniciar operações em 2030.
A Viter investiu R$ 145 milhões para atingir a marca de 1,5 milhão de toneladas de calcário agrícola produzidas anualmente no Paraná. Em abril, a empresa pertencente ao Grupo Votorantim inaugurou nova fábrica com capacidade para 600 mil toneladas por ano. Os insumos da Viter asseguram produções de café, soja, milho, algodão e cana-de-açúcar.
A Yara Brasil, por sua vez, destinou R$ 90 milhões para pesquisa e desenvolvimento. No município de Rio Grande (RS), o complexo industrial da multinacional norueguesa atingiu 100% da capacidade: 1,2 milhão de toneladas de fertilizantes por ano.
“Com o preço do gás natural cada vez mais alto no Brasil, a produção de fertilizantes nitrogenados tem-se tornado um grande desafio”, queixa-se Guilherme Schmitz, diretor da Yara, em entrevista ao jornal Valor Econômico.
Insumo essencial aos fertilizantes nitrogenados, o gás natural despontou como fator relevante na gestão de Magda Chambriard à frente da Petrobras. A presidenta da estatal antecipou que serão investidos R$ 40 milhões em perfurações na Bolívia, onde o Brasil responde por 25% da produção de gás natural atualmente.
Em recente visita a Santa Cruz de La Sierra, por ocasião do Foro Empresarial Brasil-Bolívia, Chambriard defendeu o aumento da participação da Petrobras na commodity boliviana. “Esse gás servirá como insumo para a indústria petroquímica e para a produção de fertilizantes. A condição é que sejamos capazes de fazê-lo chegar ao Brasil a preços acessíveis.”
Da Redação, com informações do MDIC, Mapa, Petrobras, Valor Econômico, CNN Brasil
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