A política monetária brasileira, marcada por taxas de juros escorchantes, tem sido um fardo pesado sobre a economia nacional. Essa estratégia, adotada pelo Banco Central (BC) com o pretexto de controlar a inflação, tem gerado impactos profundos e duradouros na vida da população. Uma pesquisa recente da plataforma Acordo Online revelou um dado alarmante: os juros elevados são a segunda maior causa da inadimplência no país, atrás apenas do desemprego. A estatística demonstra o quanto a direção tomada pelo BC tem dificultado o acesso ao crédito e a capacidade das famílias de honrar seus compromissos financeiros.
O estudo revela que 36% dos brasileiros não conseguem quitar seus compromissos financeiros por não terem trabalho, enquanto 18% mencionaram as altas taxas de juros como causa principal da inadimplência. O descontrole financeiro foi citado por 14% dos entrevistados. O fato é que o aumento da Selic torna mais caro manter as finanças em dia.
O próprio Banco Central reconhece isso, mesmo que indiretamente. Segundo dados da própria autarquia, a taxa média cobrada a pessoas físicas pelos bancos no rotativo do cartão de crédito chegou a inacreditáveis 432,3% ao ano em julho, o maior índice em 2024. De acordo com o BC, no mês, a variação foi de 3,6% e de 8,9% no trimestre. Não é por outro motivo que a inadimplência se mantém em patamar tão preocupante.
A alta taxa de juros também inibe o consumo e afeta setores da economia. As famílias tendem a adiar a compra de bens duráveis, como carros e eletrodomésticos, e as empresas a investir menos em expansão e modernização. Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central nomeado por Bolsonaro, usa a contenção da inflação como justificativa para a manutenção da Selic em altos patamares. Porém, o argumento ignora aspectos importantes para o país, como o crescimento, a geração de empregos e a distribuição de renda, que são restringidos pela abordagem financeira do Bacen.
A política monetária restritiva do Banco Central tem um grande impacto sobre o país, especialmente sobre os setores mais vulneráveis da população. Famílias de baixa renda, pequenas empresas e trabalhadores informais são os mais afetados pela Selic.
A relação entre juros altos e a dívida pública é outro ponto que causa preocupação. Ao elevar a taxa, o governo precisa pagar valores maiores sobre os títulos, aumentando a despesa e limitando os recursos para investimentos em áreas como educação, saúde e infraestrutura. Essa dinâmica cria um círculo vicioso: para pagar a dívida, o governo precisa emitir mais títulos, o que aumenta a dívida e exige juros ainda mais altos no futuro.
É fato conhecido que o Brasil tem atualmente a segunda maior taxa de juros do mundo. Ao defender essa política, o Banco Central argumenta que a estabilidade de preços, controlada pela Selic, é fundamental para o bom funcionamento da economia. Segundo a instituição, a inflação alta corrói o poder de compra, gera incerteza e desestimula o investimento.
No entanto, a visão monetária restritiva de Campos Neto freia o desenvolvimento do país. Ele vem sofrendo inúmeras críticas de economistas e especialistas, que defendem uma abordagem mais equilibrada, levando também em consideração o crescimento econômico e a geração de empregos. A manutenção da Selic elevada por um longo período vem gerando cada vez mais questionamentos sobre sua eficácia e seus custos para a sociedade.
Luiz Marinho, ministro do trabalho e emprego, rebateu essa semana a postura de Campos Neto, mostrando que o crescimento do país é um remédio mais eficaz para o controle inflacionário. “O Banco Central precisa aprender que, combater inflação, não tem só um jeito, que é o jeito de restrição de crédito e de aumento de juros. Controla-se inflação também com oferta, com mais produção, mais capacidade aquisitiva da classe trabalhadora do país. Porque há espaço para isso. Nós vimos nos governos Lula 1 e 2, que controlamos a inflação com mais produção”, disse.
É fundamental que o Banco Central reveja sua política monetária e adote uma postura mais equilibrada, reduzindo a Selic para padrões compatíveis com a necessidade do país, especialmente nesse momento de recuperação econômica. Segundo o vice-presidente Geraldo Alckmin, “não há razão para termos a segunda maior taxa de juro real do mundo, isso atrapalha muito”.
Também é crucial que o governo continue a implementar políticas públicas de redução da desigualdade social e promoção do desenvolvimento econômico sustentável. Investimentos em educação, saúde, infraestrutura e ciência e tecnologia são necessários para aumentar a produtividade da economia e gerar empregos de qualidade.
Dilma Rousseff, presidenta do NDB (o banco dos BRICS) e ex-presidenta do Brasil, fez recentemente um discurso na abertura da 9a reunião anual do Banco, defendendo canalizar a liquidez internacional para os países emergentes, reduzindo assim o peso das altas taxas. “Os pagamentos de juros nos países em desenvolvimento aumentaram mais rapidamente do que os gastos públicos com infraestrutura, saúde, educação e habitação na última década”, afirmou.
A sociedade civil também tem um papel importante a desempenhar. É preciso pressionar os representantes políticos para que adotem medidas que beneficiem a maioria da população e não apenas os interesses de uma minoria. Cada eleição, como a que acontece em outubro deste ano, é uma nova oportunidade de melhorar esse cenário.
Em resumo, a manutenção dos juros elevados é uma armadilha que precisa ser superada. As famílias estão sofrendo para pagar suas contas e as empresas têm dificuldade de investir mais. É hora de construir um futuro mais justo e próspero para o Brasil, com uma política monetária que estimule o crescimento, gere empregos e reduza as desigualdades.
Da Redação
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