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Com as mudanças climáticas, a doença será capaz de reduzir em 13% a produção mundial do trigo

A brusone tem potencial de afetar 13,5 milhões de hectares e risco de reduzir em 13% a produção mundial de trigo

10/09/2024 às 08h50
Por: Redação Fonte: Embrapa
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Foto: Flávio Martins Santana
Foto: Flávio Martins Santana
  • Estudo científico publicado na revista Nature Climate Change analisa o risco de expansão da brusone em escala mundial.
  • O fungo causador da doença, que impõe perdas à produção, é favorecido pelas mudanças no clima.
  • A estimativa é de que ela possa se expandir em escala mundial, atingindo 13,5 milhões de hectares, e reduzir a produção de trigo em 13%, em 2050.
  • Típico de regiões tropicais e subtropicais, o fungo tem se desenvolvido também em regiões de clima frio e de baixa umidade.
  • De acordo com o estudo, a brusone do trigo pode se favorecer com as mudanças climáticas e chegar a todos os continentes, com exceção da Antártida.
  • Ao atacar folhas e espigas, o fungo da brusone pode comprometer até 100% da produção.

 

 

As mudanças climáticas favorecem o fungo causador da brusone, doença que causa impactos importantes na produção de trigo. Ela tem potencial de afetar 13,5 milhões de hectares e risco de reduzir em 13% a produção mundial de trigo. As projeções são do estudo Production Vulnerabilidade à brusone do trigo sob mudanças climáticas (Vulnerabilidade da produção de trigo à brusone sob mudanças do clima) publicado na Nature Climate Change.

A brusone é considerada a doença de importância econômica mais recente identificada em trigo no mundo. Ela é causada por um fungo, o Pyricularia oryzae Triticum ( Magnaporthe oryzae patótipo Triticum ), que ataca folhas e espigas, com danos que podem comprometer até 100% do rendimento no trigo.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo (RS) José Maurício Fernandes , o desenvolvimento do fungo causador da brusone é favorecido por altas temperaturas e umidade, condições presentes em países de clima tropical e subtropical. Segundo ele, o que tem chamado a atenção é a incidência da doença também em condições de clima frio ou mesmo com baixa umidade.

Nos últimos anos, trabalhos com brusone foram observados ao norte de Bangladesh, onde o fungo sobreviveu ao clima seco e às temperaturas baixas durante a safra de trigo, especialmente em função das temperaturas mínimas terem subido nos últimos anos.

As temperaturas mais elevadas no inverno gaúcho também foram em surtos localizados de brusone na safra de trigo 2023 no Rio Grande do Sul, principalmente na região noroeste do estado, onde as temperaturas mínimas foram acima de 15 ºC ao longo da safra. “Num cenário de mudanças climáticas globais, com aumento de temperaturas e variação do regime de chuvas, o fungo vai encontrar novos ambientes para se instalar”, prevê o pesquisador, lembrando que a dispersão dos esporos do fungo pode ser pelo vento ou pelo comércio internacional por meio de grãos e sementes contaminadas.

 

Um fungo que ataca cereais

O fungo é um conhecido velho do arroz, já que os primeiros relatos de brusone na cultura datam de 1600 na China. Em trigo, o microrganismo causador da brusona foi identificado pela primeira vez no Brasil, em 1985, em terras do estado do Paraná, mas a doença se disseminou rapidamente para outros estados brasileiros (Mato Grosso do Sul, São Paulo, Goiás e Minas Gerais ), além de diferentes países da América do Sul. Veja a dispersão da brusone na América do Sul no mapa abaixo:

Da  explosão do trigo: uma doença que se espalha por saltos intercontinentais e suas estratégias de gestão

 

Conforme informações do Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo ( CIMMYT ), uma epidemia de brusone afetou 3 milhões de hectares com trigo na América do Sul na década de 1990. Em 1996, o primeiro surto de brusone na Bolívia ocorreu em quase 80% de perdas na produção. No Paraguai, a primeira epidemia ocorreu em 2002, quando foram registradas perdas de produção de mais de 70%. No Brasil, ocorreram perdas por brusone em trigo nos anos de 2009 e de 2012, quando danos acima de 40% comprometeram trabalhos na fase de espigamento do trigo no Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Nos anos seguintes, tem crescido a incidência de brusone também nos estados do Sul do Brasil, com registros frequentes no Rio Grande do Sul e no centro-sul do Paraná.

Na Argentina, 10º maior produtor mundial de trigo, a brusone apareceu em 2007, em atividades ao norte do país, mas foi em 2012, quando ela chegou à província de Buenos Aires, principal polo de triticultura argentina, que a doença acendeu o alerta vermelho para o risco de perdas nas atividades. Em 2023, o problema foi registrado pela primeira vez no Uruguai.

Em 2016, houve o primeiro registro de brusone em trigo fora da América do Sul, com epidemia da doença em Bangladesh, país ao sul da Ásia, com perdas acima de 30% nas mãos. No ano de 2018, ela apareceu nas lavouras da Zâmbia, no centro-sul do continente africano.

 

Modelos de simulação para avaliar resultados de doenças

A partir dos cenários do futuro do clima, projetados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), pesquisadores das áreas agronômicas e da ciência da computação utilizaram técnicas de modelagem e simulação para estimar os possíveis impactos da disseminação da brusone nos diversos continentes onde o trigo é cultivado, considerando um ambiente de mudanças climáticas que favorecem a doença.

Os pesquisadores utilizaram o modelo DSSAT Nwheat, desenvolvido na Universidade da Flórida com atualização colaborativa por diversos centros de pesquisa no mundo, analisando variáveis ​​como aumento das temperaturas, umidade relativa do ar e elevação do CO2 na atmosfera. Para estimar cenários, foram utilizados registros históricos de dados entre 1980 e 2010, projetando mudanças climáticas para o período de 2040 a 2070.

 

 

 

 

Brusone pode chegar a todos os continentes

Com exceção da Antártida, a brusone do trigo pode se favorecer com as mudanças climáticas e chegar a todos os continentes.

Nos países da América do Sul onde o problema já ocorre, as áreas de trigo vulneráveis ​​à doença passaram de 13% para 30%. As previsões indicam o risco de a doença chegar aos trabalhos de trigo dos Estados Unidos, México e Uruguai (América); Itália, Espanha e França (Europa); Japão e sul da China (Ásia); Etiópia, Quênia e Congo (África); Nova Zelândia e oeste da Austrália (Oceania).

“Apesar das condições ambientais do Hemisfério Norte ainda não se mostrarem adequadas à brusone, em um cenário de aumento das temperaturas e da umidade é provável a incidência de doenças nas atividades de trigo, especialmente em regiões próximas ao Mar Mediterrâneo. Da mesma forma, no sul da China, onde o cultivo do trigo tem crescido nos últimos anos”, explica o professor da Universidade da Flórida Willingthon Pavan.

Nas condições atuais, a brusone já representa ameaça a 6,4 milhões de hectares de trigo no mundo. Em um cenário de mudanças climáticas, por volta de 2050, a doença poderia afetar 13,5 milhões de hectares, resultando em redução de 13% na produção mundial de trigo, com perdas que podem chegar a 69 milhões de toneladas de trigo por ano.

“Existem diversas iniciativas no mundo tentando conter a doença, desde o melhoramento de plantas, biotecnologia, estratégias de controle químico e manejo da cultura, mas ainda não conseguiram sucesso total capaz de erradicar o problema da brusone das atividades de trigo. A resiliência às mudanças climáticas exige o preparo com base em projeções capazes de orientar a tomada de decisão para minimizar as perdas por brusone no trigo e garantir a segurança alimentar do planeta”, conclui Fernandes.

 

A publicação científica

O artigo “ Vulnerabilidade da produção de trigo à brusone sob mudanças do clima” foi publicado na Nature Climate Change. Organizado pelo  CIMMYT , o artigo pesquisadores reunidos do Brasil, Estados Unidos, México, Alemanha e Bangladesh.

 

 

 
 

Joseani M. Antunes (MTb 9.396/RS)
Embrapa Trigo

Consultas de imprensa

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