O Movimento Escoteiro, idealizado por Robert Baden-Powell em 1907, foi inicialmente direcionado apenas aos meninos. Entretanto, já em 1909, durante o grande encontro no Palácio de Cristal, em Londres, um grupo de meninas uniformizadas surpreendeu o fundador ao reivindicar o direito de viver as mesmas aventuras que os rapazes. Esse marco histórico abriu caminho para que as mulheres pudessem ingressar num movimento dedicado a três pilares essenciais: a devoção a Deus, o amor e a responsabilidade para com a Pátria, e o serviço ao Próximo.
Foi então que Agnes Baden-Powell, irmã de B-P, assumiu um papel fundamental ao auxiliar na criação da Associação Inglesa das Girl Guides, em 1912. Seu trabalho mostrou que está na essência do escotismo abraçar e valorizar todas as pessoas, reconhecendo e respeitando habilidades e talentos distintos em mulheres e homens. Lady Olave, esposa de B-P, ingressou no movimento em 1914 e, pouco tempo depois, tornou-se Comissária-Chefe. Ambas personificaram o compromisso de apoiar o desenvolvimento de jovens de todas as idades.
Enquanto os homens partiam para a Primeira Guerra Mundial, muitas mulheres assumiram postos de chefia e coordenação, contribuindo para o fortalecimento do Movimento Escoteiro em época de guerra. Nesse contexto, surge a figura inspiradora de Vera Barclay, primeira Akelá reconhecida, que colaborou no Manual do Lobinho (1916) e treinou adultos para trabalhar com crianças pequenas. O “turbilhão de entusiasmo” de Vera não só incentivou a formação de novos grupos e seções, mas também provou que as mulheres poderiam conduzir o escotismo com a mesma dedicação e eficácia, unindo fé, patriotismo e fraternidade.
No Brasil, a separação entre Escoteiros e Bandeirantes não impediu que mulheres se destacassem desde cedo. Jerônyma Mesquita, por exemplo, foi pioneira na criação da Federação das Bandeirantes do Brasil (1919). Já no Escotismo propriamente dito, descobertas de registros mostram que, mesmo no início do século XX, voluntárias assumiram papéis fundamentais para educar jovens na Lei e Promessa Escoteira.
Com o passar do tempo, o Movimento Escoteiro brasileiro foi oficializando a participação das mulheres em todos os ramos, da Alcatéia ao Clã Pioneiro, criando um ambiente onde as qualidades femininas se somam às masculinas. Mais do que simples números, a presença cada vez maior de meninas e mulheres fortalece princípios e valores. Elas demonstram empatia, capacidade de liderança, companheirismo e a típica alegria escoteira ao cumprir o lema “Sempre Alerta”, contribuindo para a formação de um mundo mais justo e solidário.
Hoje, vemos voluntárias em posições estratégicas, chefes de seção inspirando crianças e jovens a superarem desafios e a manterem vivo o espírito de serviço. São mulheres que, ao mesmo tempo, se tornam exemplos de dedicação à fé, à cidadania e ao dever de ajudar o próximo. Afinal, o Escotismo reconhece que homens e mulheres são igualmente capazes de liderar, cujas habilidades peculiares enriquecem os grupos escoteiros como um todo.
Neste Dia Internacional da Mulher, celebramos a coragem, o dinamismo e a sensibilidade feminina que, ao longo dos anos, tornaram o escotismo um espaço ainda mais inclusivo e acolhedor. A todas as mulheres escoteiras, as quais organizam eventos, conduzem acampamentos e ensinam valores de fraternidade: nosso respeito e admiração. Que cada leitora se sinta convidada a descobrir (ou redescobrir) no escotismo uma oportunidade de crescimento, realizações e serviço — pois a devoção a Deus, o amor à Pátria e o cuidado com o próximo se tornam ainda mais fortes quando contam com a força feminina.
Feliz e abençoado Dia da Mulher!
Sempre Alerta para Servir!