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Novo método detecta resíduos de pesticidas no pólen de laranjeira com precisão e menor custo

Gabriela Almeida - A análise de pólen permite entender os impactos de pesticidas sobre as abelhas e os riscos à saúde humana A análise de pólen permite entender os impactos de pesticidas sobre as abelhas e os riscos à saúde humana

Por: Redação Fonte: Embrapa
29/07/2025 às 08h38
Novo método detecta resíduos de pesticidas no pólen de laranjeira com precisão e menor custo
Foto: Gabriela Almeida
  • Método é eficaz na detecção e quantificação de neonicotinóides, classe de inseticidas sistêmicos que podem contaminar o pólen, afetando abelhas e outros polinizadores.
  • Além desses inseticidas, detecta outros usados na citricultura, que também podem afetar o meio ambiente, a segurança dos alimentos e a saúde humana.
  • Volumes de amostra, solventes e reagentes necessários ao processo são reduzidos significativamente em comparação aos métodos convencionais, diminuindo custos.
  • Pesquisa reforça a importância do monitoramento de contaminantes para a saúde única e de ferramentas confiáveis para detectar resíduos de agrotóxicos em matrizes pouco exploradas, como o pólen.
  • O Brasil, maior produtor mundial de laranja, enfrenta desafios com o uso de pesticidas e controle de pragas.

 

 

 

Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Embrapa Meio Ambiente (SP) desenvolveram e validaram um novo método laboratorial capaz de detectar resíduos de pesticidas no pólen de laranjeira com alta precisão e consumo mínimo de insumos. O método (leia quadro abaixo) exige 100 vezes menos amostras em comparação aos procedimentos tradicionais e reduz o uso de solventes e reagentes, diminuindo também os custos de análise e o impacto ambiental.

A metodologia chega em um momento crucial para a citricultura nacional. O Brasil é o maior produtor mundial de laranja, com uma colheita que ultrapassou 17,6 milhões de toneladas em 2023, segundo o IBGE. No entanto, o uso intensivo de pesticidas para combater pragas e doenças nas lavouras tem levantado preocupações ambientais e de saúde pública, especialmente quando se trata dos neonicotinóides, classe de inseticidas sistêmicos derivados da nicotina, que permanecem na planta e podem contaminar o pólen, afetando abelhas e outros polinizadores.

Foto: Carlos Ronquim

 

De acordo com os pesquisadores Robson Barizon e Sonia Queiroz, responsáveis pelo estudo conduzido na Embrapa, a análise de pólen é importante tanto para entender os impactos desses pesticidas sobre as abelhas quanto para avaliar possíveis riscos à saúde humana, uma vez que esse produto também é consumido como suplemento alimentar.

 

Sobre o método

O método utiliza a técnica de micro-QuEChERS para preparo de amostra. O método QuEChERS (do inglês Quick, Easy, Cheap, Effective, Rugged, Safe) foi desenvolvido nos anos de 2001 e 2002 pelo cientista alemão e cipriota Michelangelo Anastassiades e colaboradores.  No início, foi aplicado para análise de medicamentos veterinários e, depois, testado com sucesso na análise de resíduos de pesticidas em material vegetal. É considerado, como na sua denominação traduzida, um método rápido, fácil, econômico, efetivo, robusto e seguro, podendo ser aplicado em qualquer laboratório.

A metodologia adotada pelos pesquisadores da Embrapa e Unicamp associa à técnica de micro-QuEChERS o uso da cromatografia líquida de ultra eficiência, método de separação de compostos químicos em solução, acoplada à espectrometria de massas (UHPLC–MS/MS), técnica para identificar moléculas de interesse com o objetivo de detecção e quantificação dos resíduos.

 

Foto: Gabriela Almeida

 

Alta sensibilidade com menos material

A nova metodologia foi desenhada para superar desafios analíticos significativos, como a complexidade da matriz e o baixo volume do pólen disponível para análise. A microextração baseada em QuEChERS (leia quadro acima) adaptada permitiu uma abordagem miniaturizada e eficiente, usando apenas 100 mg de pólen e reduzindo drasticamente a geração de resíduos de reagentes e solventes, de forma alinhada ao conceito de química verde, que busca restringir ou eliminar o uso e a geração de substâncias nocivas à saúde e ao ambiente.

Além da validação do método, amostras de pólen provenientes de áreas experimentais de produção de laranja foram coletadas para análise. Entre os compostos detectados com sucesso estão os inseticidas imidacloprido, clotianidina e tiametoxam, e outros pesticidas de uso comum na cultura da laranja, como abamectina, azoxistrobina e carbendazim.

As amostras foram colhidas em flores de laranjeira durante a primavera de 2019, antes da abertura das flores, o que garantiu a ausência de contaminações externas por deriva.

Foto: Gabriela Almeida

 

Abelhas em risco

A contaminação ambiental por neonicotinóides é uma preocupação amplamente reconhecida. Estudos demonstram que essa classe de inseticidas está associada a efeitos adversos em abelhas, incluindo alterações comportamentais, fisiológicas e imunológicas.

A exposição a esses agentes ocorre tanto por contato com superfícies tratadas quanto pela ingestão de néctar e pólen contaminados, podendo resultar em efeitos como desorientação e comprometimento da memória e navegação, além de intoxicação aguda em concentrações mais elevadas.

Na União Europeia, imidacloprido, clotianidina e tiametoxam sofreram restrições severas de uso a partir de 2018, visando à proteção de polinizadores. No Brasil, restrições começaram a ser adotadas apenas em 2022, mas os produtos ainda são amplamente utilizados na agricultura. No experimento conduzido pela Embrapa, os pesquisadores simularam o uso desses pesticidas em campo, aplicando tiametoxam e imidacloprido em doses compatíveis com as recomendadas pelos fabricantes.

Foto: Gabriela Almeida (flor de laranjeira)

 

Custo menor, impacto maior

Além de eficaz, o método proposto apresenta vantagens operacionais e econômicas importantes. Ao utilizar uma quantidade 10 vezes menor de reagentes do que o método QuEChERS original e um volume de amostra 100 vezes menor, a nova abordagem reduz custos de análise e impacto ambiental, facilitando sua adoção por laboratórios e centros de pesquisa. O equipamento utilizado — um sistema de cromatografia líquida acoplado a espectrômetro de massas— é o mais comum em laboratórios de resíduos de agrotóxicos, o que amplia a aplicabilidade do método.

A validação do método seguiu os critérios da diretriz SANTE da Comissão Europeia, incluindo testes de especificidade, linearidade, precisão e veracidade. Essa diretriz define as regras para garantir que os métodos analíticos usados na detecção de resíduos de pesticidas sejam confiáveis, precisos e produzam resultados válidos. Os efeitos da matriz também foram avaliados para garantir que os resultados não fossem distorcidos por interferências do pólen.

Foto: Gabriela Almeida

 

Relevância para a agricultura e a saúde pública

O estudo reforça a importância de desenvolver ferramentas confiáveis para monitorar resíduos de agrotóxicos em matrizes pouco exploradas, como o pólen, e abre caminho para futuras pesquisas em outras culturas agrícolas. Também contribui com evidências para o debate sobre o uso de pesticidas no Brasil, um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo.

Segundo os pesquisadores envolvidos no estudo (confira no quadro abaixo), a miniaturização do método é um avanço técnico e estratégico, pois permite análises mais acessíveis e sustentáveis, essenciais para proteger polinizadores e garantir a qualidade dos produtos que chegam ao consumidor. 

Com essa inovação, os pesquisadores esperam ampliar o monitoramento de resíduos de pesticidas nas cadeias produtivas, promovendo uma agricultura mais segura, eficiente e alinhada com as exigências ambientais e sanitárias contemporâneas.

 

Foto: Gabriela Almeida

 

Acesso ao trabalho de pesquisa

O trabalho completo de Gabriela Brito Almeida (Unicamp), Jordana Alves Ferreira, Robson BarizonSonia Queiroz (Embrapa Meio Ambiente) e Carla Grespan Bottoli (Unicamp) está disponível em Determination of neonicotinoids and other residues in orange pollen by micro-QuEChERS and UHPLC–MS/MS – ScienceDirect

 

 
 

Cristina Tordin (MTb 28.499/SP)
Embrapa Meio Ambiente

Contatos para a imprensa

Telefone: (19) 3311-2608

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