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Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Embrapa Meio Ambiente (SP) desenvolveram e validaram um novo método laboratorial capaz de detectar resíduos de pesticidas no pólen de laranjeira com alta precisão e consumo mínimo de insumos. O método (leia quadro abaixo) exige 100 vezes menos amostras em comparação aos procedimentos tradicionais e reduz o uso de solventes e reagentes, diminuindo também os custos de análise e o impacto ambiental.
A metodologia chega em um momento crucial para a citricultura nacional. O Brasil é o maior produtor mundial de laranja, com uma colheita que ultrapassou 17,6 milhões de toneladas em 2023, segundo o IBGE. No entanto, o uso intensivo de pesticidas para combater pragas e doenças nas lavouras tem levantado preocupações ambientais e de saúde pública, especialmente quando se trata dos neonicotinóides, classe de inseticidas sistêmicos derivados da nicotina, que permanecem na planta e podem contaminar o pólen, afetando abelhas e outros polinizadores.
Foto: Carlos Ronquim
De acordo com os pesquisadores Robson Barizon e Sonia Queiroz, responsáveis pelo estudo conduzido na Embrapa, a análise de pólen é importante tanto para entender os impactos desses pesticidas sobre as abelhas quanto para avaliar possíveis riscos à saúde humana, uma vez que esse produto também é consumido como suplemento alimentar.
Sobre o métodoO método utiliza a técnica de micro-QuEChERS para preparo de amostra. O método QuEChERS (do inglês Quick, Easy, Cheap, Effective, Rugged, Safe) foi desenvolvido nos anos de 2001 e 2002 pelo cientista alemão e cipriota Michelangelo Anastassiades e colaboradores. No início, foi aplicado para análise de medicamentos veterinários e, depois, testado com sucesso na análise de resíduos de pesticidas em material vegetal. É considerado, como na sua denominação traduzida, um método rápido, fácil, econômico, efetivo, robusto e seguro, podendo ser aplicado em qualquer laboratório. A metodologia adotada pelos pesquisadores da Embrapa e Unicamp associa à técnica de micro-QuEChERS o uso da cromatografia líquida de ultra eficiência, método de separação de compostos químicos em solução, acoplada à espectrometria de massas (UHPLC–MS/MS), técnica para identificar moléculas de interesse com o objetivo de detecção e quantificação dos resíduos.
Foto: Gabriela Almeida |
A nova metodologia foi desenhada para superar desafios analíticos significativos, como a complexidade da matriz e o baixo volume do pólen disponível para análise. A microextração baseada em QuEChERS (leia quadro acima) adaptada permitiu uma abordagem miniaturizada e eficiente, usando apenas 100 mg de pólen e reduzindo drasticamente a geração de resíduos de reagentes e solventes, de forma alinhada ao conceito de química verde, que busca restringir ou eliminar o uso e a geração de substâncias nocivas à saúde e ao ambiente.
Além da validação do método, amostras de pólen provenientes de áreas experimentais de produção de laranja foram coletadas para análise. Entre os compostos detectados com sucesso estão os inseticidas imidacloprido, clotianidina e tiametoxam, e outros pesticidas de uso comum na cultura da laranja, como abamectina, azoxistrobina e carbendazim.
As amostras foram colhidas em flores de laranjeira durante a primavera de 2019, antes da abertura das flores, o que garantiu a ausência de contaminações externas por deriva.
Foto: Gabriela Almeida
Além de eficaz, o método proposto apresenta vantagens operacionais e econômicas importantes. Ao utilizar uma quantidade 10 vezes menor de reagentes do que o método QuEChERS original e um volume de amostra 100 vezes menor, a nova abordagem reduz custos de análise e impacto ambiental, facilitando sua adoção por laboratórios e centros de pesquisa. O equipamento utilizado — um sistema de cromatografia líquida acoplado a espectrômetro de massas— é o mais comum em laboratórios de resíduos de agrotóxicos, o que amplia a aplicabilidade do método.
A validação do método seguiu os critérios da diretriz SANTE da Comissão Europeia, incluindo testes de especificidade, linearidade, precisão e veracidade. Essa diretriz define as regras para garantir que os métodos analíticos usados na detecção de resíduos de pesticidas sejam confiáveis, precisos e produzam resultados válidos. Os efeitos da matriz também foram avaliados para garantir que os resultados não fossem distorcidos por interferências do pólen.
Foto: Gabriela Almeida
O estudo reforça a importância de desenvolver ferramentas confiáveis para monitorar resíduos de agrotóxicos em matrizes pouco exploradas, como o pólen, e abre caminho para futuras pesquisas em outras culturas agrícolas. Também contribui com evidências para o debate sobre o uso de pesticidas no Brasil, um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo.
Segundo os pesquisadores envolvidos no estudo (confira no quadro abaixo), a miniaturização do método é um avanço técnico e estratégico, pois permite análises mais acessíveis e sustentáveis, essenciais para proteger polinizadores e garantir a qualidade dos produtos que chegam ao consumidor.
Com essa inovação, os pesquisadores esperam ampliar o monitoramento de resíduos de pesticidas nas cadeias produtivas, promovendo uma agricultura mais segura, eficiente e alinhada com as exigências ambientais e sanitárias contemporâneas.
Foto: Gabriela Almeida
Acesso ao trabalho de pesquisaO trabalho completo de Gabriela Brito Almeida (Unicamp), Jordana Alves Ferreira, Robson Barizon, Sonia Queiroz (Embrapa Meio Ambiente) e Carla Grespan Bottoli (Unicamp) está disponível em Determination of neonicotinoids and other residues in orange pollen by micro-QuEChERS and UHPLC–MS/MS – ScienceDirect |
Cristina Tordin (MTb 28.499/SP)
Embrapa Meio Ambiente
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